Estrutura básica do plano de ensino

O docente possui liberdade quanto a elaboração do plano de ensino, observado o que já se encontra estabelecido nos projetos político-pedagógicos da escola e do curso. No projeto de curso, o docente irá encontrar, além do referencial político-pedagógico, alguns dos elementos essenciais do plano de ensino. Algumas escolas disponibilizam modelos com a estrutura básica para a elaboração desse documento, já outras optam por deixar essa estruturação completamente a critério do docente, considerando sua autonomia em sala de aula.

card do curso

Título: Elementos do Plano de ensino
Fonte: Prosa (2025c).

Normalmente, na parte inicial são colocados os elementos de identificação (nome e código do componente, docente responsável, curso, turma, período, dias e horários das aulas etc.). Em seguida, é apresentada a ementa, que consiste em um resumo dos principais conteúdos e temas centrais do componente curricular; e os objetivos gerais (o que se deseja alcançar com o componente como um todo) e específicos (o que se pretende em cada etapa). Depois, é apresentado o conteúdo programático, para o qual existem diversas formas de organização (módulos, unidades temáticas, tópicos, entre outros) com diferentes graus de detalhamento do que será abordado em cada etapa.

Na metodologia, são detalhadas as estratégias, as dinâmicas e os métodos que serão usados na abordagem dos conteúdos (aulas expositivas dialogadas, visitas técnicas e atividades de campo, seminários, trabalhos em grupo etc.). É necessário ter em mente que a metodologia deve ser coerente com a opção teórico-filosófica adotada e, também, com os objetivos do componente curricular. No cronograma, é apresentada a programação detalhada das aulas e das atividades em cada data , ao longo do período letivo.

Na parte sobre avaliação, são descritos os critérios e instrumentos de análise do desempenho e aproveitamento discente. Podem ser aplicadas estratégias de avaliação individual e coletiva com o uso de diferentes recursos. Como visto na história de nossa personagem, o processo avaliativo deve ser condizente com o referencial político-pedagógico. Avaliações que promovem a competitividade e o individualismo devem ser superadas se quisermos atuar na formação de pessoas solidárias e ocupadas com o bem-comum.

A última parte do plano de ensino traz as referências bibliográficas. Uma parte dessas referências já está no PPC, porém, o docente pode atualizá-las e enriquecê-las com sugestões de materiais para aprofundamento (livros, sites, filmes etc.). A critério do docente, é possível acrescentar ao plano de ensino uma apresentação e outros campos que auxiliem na organização do trabalho, ou que explicitem melhor para os estudantes como será o desenvolvimento desse trabalho.

 

A participação discente no planejamento do ensino

Na elaboração do plano de ensino, é essencial a consideração das características do público e também das condições de trabalho disponíveis. O que funciona para um grupo pode não funcionar para outro. Mas, mais do que apresentar e discutir o plano de ensino com os estudantes no início do período letivo, é preciso envolvê-los nesse trabalho, buscando uma construção dialógica e participativa.

Como nos ensina bell hooks (2017, p. 34), “a pedagogia engajada necessariamente valoriza a expressão do aluno”. A educadora estadunidense destaca que a empolgação pelas ideias na sala de aula não é suficiente para gerar um processo de aprendizagem envolvente. O entusiasmo é resultado de uma construção coletiva. Para tanto, é necessário que nos interessemos efetivamente uns pelos outros.

Conhecer e compreender as demandas discentes são passos importantes para a definição e o direcionamento de enfoques e dinâmicas, metodologias e estratégias educacionais mais adequadas. Mas o engajamento decorre também de outros fatores, entre eles, o sentimento de ter parte nessa construção. Educandos são produtores de conhecimento e, portanto, podem (e devem) exercitar a reflexão sobre o próprio processo de aprendizagem.

Quais as expectativas da turma acerca da disciplina? Como enxergam o conteúdo proposto em relação aos desafios da sociedade contemporânea? Como esse conteúdo se conecta com outros em sua formação profissional? Há algum tema que a turma considere relevante e que não aparece no conteúdo programático? Como compreendem o próprio aprendizado? Que estratégias poderiam colaborar para um maior envolvimento e aprendizagem? Como incentivar a autonomia e a pesquisa ativa? Como estimular a cooperação, a autogestão, o desenvolvimento do trabalho colaborativo?

Título: Quais as expectativas da turma acerca da disciplina
Fonte: Gescom (2024a).
Elaboração: Prosa (2025e).

Todos esses (e outros) aspectos podem ser discutidos e negociados com a turma para a adequação e o refinamento do plano de ensino. O processo de debate com os estudantes, o estabelecimento de acordos e compromissos pedagógicos é, em si, um ato formativo que pode contribuir para a explicitação dos sentidos e das intenções da unidade curricular.

Uma experiência inspiradora nesse sentido é a ocorrida no campus Jacarezinho do IFPR, onde foi criada a unidade curricular “O esporte da escola” com o objetivo de democratizar o acesso às práticas esportivas. Nesta unidade temática, o esporte é compreendido como ferramenta de humanização em oposição à abordagem tecnicista que enfatiza o caráter competitivo.

Para saber mais, leia o capítulo: “O esporte da escola: o planejamento da unidade curricular em conjunto com os alunos do ensino médio integrado” (p. 175 - 186), de Elaine Valéria Cândido Fernandes, inserido no e-book Currículo Inovador: experiências didáticas no IFPR Jacarezinho, com organização de Hugo Emmanuel da Rosa Corrêa,  Rodolfo Fiorucci e Sergio Vale da Paixão.

 

Especificidades da EPT

O que significa afirmar que a EPT possui características próprias em termos políticos, pedagógicos e epistemológicos? E como essas especificidades atravessam a construção do plano de ensino? Vimos nos capítulos anteriores que a EPT é definida como uma modalidade educacional. Uma modalidade implica um modo próprio de fazer educação delineado em função de determinados aspectos. Que aspectos seriam esses na EPT?

Podemos assumir que o modo próprio da EPT se dá em função de sua finalidade, a participação na vida produtiva (Cattani e Ribeiro, 2011). Vimos que o sentido dessa participação se altera radicalmente conforme o projeto de sociedade que se tem em mente. O sentido ético-político que atribuímos a essa participação impacta as nossas escolhas em relação a conteúdos, métodos, abordagens e demais aspectos da organização do processo de ensino.

O modo próprio de fazer educação da EPT é demarcado, também, pelo seu objeto de estudo e intervenção: a tecnologia. Lucília Machado (2008, p. 17), no artigo Diferenciais inovadores na formação de professores para a educação profissional, considera esta a primeira especificidade da EPT. A autora define a tecnologia como

uma ciência transdisciplinar das atividades humanas de produção, do uso dos objetos técnicos e dos fatos tecnológicos

(Machado, 2008, p. 17).

Na perspectiva acadêmica/escolar, a tecnologia é uma disciplina que se volta para o estudo do trabalho humano e suas relações com os processos técnicos.

Por consequência, a docência na EPT trata “da intervenção humana na reorganização do mundo físico e social e das contradições inerentes a esses processos” (Machado, 2008, p. 17). Nesse sentido, é necessário que se reflita sobre como, e em que sentidos, uma proposta de ensino pode promover a discussão sobre questões relacionadas às necessidades sociais e às alternativas tecnológicas.

No caso da nossa personagem Ludmilla, as unidades curriculares "Mecânica de Solos" e "Materiais de Construção" dizem respeito tanto ao conhecimento técnico-tecnológico específico desses campos (por exemplo: as propriedades mecânicas, físicas e químicas dos materiais) quanto a questões mais amplas, como a compreensão do setor da construção civil em nossa sociedade, a ocupação do solo, os impactos ambientais, as tecnologias alternativas, entre tantos outros.

A EPT tem como objetivos a profissionalização e a compreensão dos fundamentos científicos-tecnológicos dos processos produtivos. Mas, sabemos que sob a égide do capitalismo, a inclusão nas oportunidades de trabalho está sempre subordinada aos interesses mercantis. Dentro desse limite, a função dos professores da EPT é propiciar melhores condições de inclusão no mundo do trabalho (Kuenzer, Franco e Machado, 2008). Uma inserção melhor qualificada é um passo importante no trajeto de lutas pelas transformações sociais. 

Se é esse o nosso compromisso, cada componente curricular deve colaborar para a aquisição de uma fundamentação política e técnica consistente. Mas, não basta um bom plano: sua materialização em sala de aula (como prática) exige um processo permanente de avaliação e, quando necessário, a execução de ajustes, adequações e revisões.

Para saber mais: perspectivas epistemológicas

O modo próprio de fazer educação na EPT também tem características delineadas por outros aspectos, como, por exemplo, o espaço em que se desenvolve (se no domínio escolar ou no laboral); os modos de conhecer e os respectivos modelos pedagógicos nas diferentes profissões e especialidades técnicas. Buscamos apresentar elementos para as primeiras reflexões sobre o plano de ensino, e deixamos esses temas como sugestões para aprofundamento de estudos.

Para saber mais, acesse os textos: “Perspectivas epistemológicas de formação profissional nos espaços acadêmicos”, de Caetana Silva (2020); e “Epistemología de las disciplinas profesionales y técnicas”, de Richard Ganon (2010).