Diante dos processos mencionados anteriormente, o acesso à escola tem sido insuficiente para garantir a conclusão da educação básica. Portanto, é preciso que esse acesso venha acompanhado de políticas e de ações que garantam a permanência dos estudantes duramente afetados por essas exclusões sociais. A própria existência da EJA reflete a expressão dessas condições.

Por que, então, milhões de brasileiros não acessaram a educação escolar ou interromperam os estudos? Segundo o IBGE (2024), 41,7% dos jovens entre 14 e 29 anos deixaram a escola para trabalhar, enquanto 23,5% evadiram devido à falta de interesse pelos estudos. Entre as mulheres, destaca-se que o principal motivo para a interrupção é o trabalho, seguido pela gravidez e pela falta de interesse. Esses dados expressam ainda que 71,6% dos estudantes que interromperam os estudos são pretos ou pardos, enquanto 27,4% são brancos.

Quem são os estudantes que buscaram ou retornaram à escola por meio da EJA?

Miguel Arroyo (2005) destaca que, desde o princípio da EJA, o perfil do estudante é composto por jovens e adultos pobres, negros, desempregados, que trabalham na economia informal e que vivem nos limites da sobrevivência: “São jovens e adultos populares. Fazem parte dos mesmos coletivos sociais, raciais, étnicos, culturais” (Arroyo, 2005, p. 29). Esses estudantes estão em situação de vulnerabilidade social, afetados pela negação de direitos, exclusão e marginalização. Os jovens e adultos não abandonaram a escola por escolha individual: o que ocorre é a repetição de uma longa história de negação de direitos, a mesma vivida por seus pais e avós, marcada por raça, gênero, etnia e classe social (Arroyo, 2005). O lugar social desses estudantes, portanto, torna a EJA uma educação de classe, de acordo com Sônia Maria Rummert (2007), representando uma significativa fração da classe trabalhadora que tem vivido no limite da sobrevivência. 

Dados mais recentes indicam que 65,1% dos estudantes matriculados na EJA têm menos de 40 anos e, desses, 52,1% são do sexo masculino. Os que têm acima de 40 anos são predominantemente do sexo feminino, totalizando 59,2%. Em relação à cor/raça, 77,7% dos estudantes de nível fundamental se identificam como pretos ou pardos, enquanto no nível médio essa porcentagem é de 70,7%. Os declarados como brancos são 19,6% no nível fundamental e 26,9% no nível médio (IBGE, 2024). 

Para refletir: vivências da EJA-EPT

Você chegou ao primeiro momento de reflexão deste capítulo. Será apresentado, abaixo, um curta-metragem que explicita as tensões, os desafios e as alegrias dos estudantes da EJA quando retornam à escola, além de uma dissertação para o aprofundamento do perfil desses estudantes.

1) Após assistir ao vídeo “Quando retorno à Escola”, converse com alguém que está cursando a EJA, um amigo ou parente, se possível. Em seguida, escreva um texto sobre o sentido da escola para esse estudante.

2) Tendo como base o perfil dos estudantes da EJA apresentado pela dissertação de Camila Noleto Franco e os dados disponibilizados pelo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) sobre a EJA em 2022, reflita sobre a efetivação das políticas educacionais destinadas à EJA na contemporaneidade.

Curta-metragem: Quando retorno à escola (2023)

Sinopse: Quatro estudantes da EJA veem-se impedidas de continuar com os estudos quando suas vidas mudam completamente por um contexto pandêmico. As dificuldades do ensino a distância, a falta de tecnologias adequadas, a situação de pobreza e a crise sanitária, mulheres num impasse entre a saudade das aulas e a necessidade de trabalhar. As quatro personagens são vividas por uma mesma atriz, que também entrelaça sua relação com a escola.

Depois de assistir ao curta-metragem, reflita sobre o contexto da EJA-EPT e a importância dessa modalidade de ensino para os estudantes que têm oportunidade de cursá-la.

Para saber mais:

Depois de compreender quem são as pessoas que fazem parte da EJA, traçaremos, na próxima parte do capítulo, um panorama histórico das políticas educacionais e das ações governamentais que orientam a EJA-EPT.