As bases teóricas das metodologias e das práticas integradoras

Até aqui, evidenciamos a vasta realização de experiências denominadas de práticas integradoras na RFEPCT, assim como a produção de relatos e análises sobre essas experiências.  

Cabem, aqui, as seguintes reflexões: como são desenvolvidas essas práticas integradoras? Será que elas ocorrem na perspectiva de uma práxis transformadora? É essa a análise à qual nos dedicaremos na continuação.

Antes, é preciso evidenciar que essas práticas podem manifestar-se na organização curricular sob diversas formas. Nessa discussão já há grande produção sobre o tema, abordando assuntos como centros de interesses, projetos, temas geradores, complexos temáticos, atividade, objetivação, dentre outras questões (Machado, 2013; Araujo, Costa e Santos, 2013; Araujo e Costa, 2017).

Neste capítulo, a questão central é o referencial teórico que fundamentará a utilização de qualquer metodologia integradora adotada em uma determinada experiência de ensino integrado.

Nessa perspectiva, vamos ao encontro de Araujo e Costa (2017, p. 119-120):

O projeto de Ensino Médio Integrado, portanto, compreendido como ideia de formação omnilateral (formação inteira), tem um conteúdo político que dele não pode ser retirado, sob pena de ser reduzido a um projeto pedagógico ou curricular e não como uma utopia que requer uma atitude política de transformação.

Sendo assim, compreendemos que, seja qual for a estratégia metodológica de integração adotada, a questão central é que seja orientada pelo conteúdo político que objetiva a transformação da realidade como horizonte a ser alcançado – e é com essa lente que vamos desenvolver esta análise. Dessa forma, esperamos contribuir para sua compreensão sobre práticas educativas integradoras na EPT, independentemente do espaço institucional no qual você atue ou venha a atuar.

Primeiro, é importante destacar que os relatos e as análises sobre as práticas educativas integradoras permitem identificar que elas vêm se materializando diante de inúmeras dificuldades, ou seja, há tantos desafios quanto conquistas – ambos recorrentes nesse projeto.  Dentre os problemas evidenciados, destacam-se: 

  • o distanciamento entre o que está previsto nos Projetos Político-Pedagógicos (PPP) e nas Propostas Pedagógicas Curriculares (PPC) das instituições e o que se materializa de fato nessas práticas; 
  • a falta de apontamento teórico-metodológico claro nos PPP e nas PPC para a realização dessas práticas; 
  • a falta de domínio dos docentes sobre os princípios que fundamentam o currículo integrado;
  • a diferença entre as trajetórias acadêmicas e profissionais dos docentes, especialmente entre os da FGB e os que atuam nos eixos tecnológicos – o que implica diferentes compreensões de mundo, não raro, antagônicas.

O estudo “Estado da arte: a integração curricular no ensino médio integrado dos institutos federais”, de Medeiros, Alberto e Santiago (2020), sintetiza muito bem esses problemas:

Os textos analisados permitiram entender que os estudos sobre a integração curricular no âmbito do EMI dos IFs, encontrados nas teses e dissertações, esbarram em questões similares: o distanciamento do que se quer daquilo que se faz. [...] Outra discussão comum a muitos dos trabalhos analisados foi a necessidade de formação inicial e continuada de professores e equipe pedagógica, com subsídios para o planejamento e execução de um currículo, de fato, integrado. [...] rivalidade entre professores de formação geral e professores de formação técnica (p.41-42).

Outros trabalhos também caminham na mesma direção. Sousa e Moura, em estudo sobre o EMI nos IF, a partir de publicações disponíveis nas bases de dados da Capes e da Scientific Electronic Library Online, concluem que a integração e a interdisciplinaridade estão explicitadas nos PPC do EMI, “[...] contudo, enquanto elemento estruturante da prática pedagógica dos professores, ainda se mostra um devir, exigindo iniciativa e apoio institucional para sua efetiva implementação” (2022, p.1). 

Por sua vez, Henrique e Nascimento (2015) analisaram 21 artigos que integram os Anais do II Colóquio Nacional a Produção do Conhecimento em Educação Profissional que discutem práticas pedagógicas integradoras, sendo 16 provenientes de institutos federais de todas as regiões do país. Concluem que “[...] as práticas integradoras comumente ocorrem articuladas a projetos de pesquisa e extensão esporádicos e desarticulados dos currículos de cursos de formação” (p. 63), sendo predominantemente eventuais.

Por outro lado, alguns estudos destacam aspectos positivos. Flôres (2024), em sua tese de doutorado, desenvolveu um estudo sobre o PI como prática pedagógica nos IF e conclui que essa prática pedagógica potencializa a formação integral e crítica dos estudantes, desenvolvendo sua autonomia, capacidade de análise, pesquisa e comunicação. Todos esses elementos os induzem a terem um papel mais ativo na sociedade, transformando-a.

Em estudos mais localizados, também encontramos resultados convergentes. Por exemplo, Cruz et al. (2015), em estudo sobre o PI no IFF, destacam (entre os principais resultados alcançados) que o trabalho com práticas integradoras contribui para o desenvolvimento da autonomia, da capacidade de iniciativa e inovação dos estudantes e para “[...] a aproximação da escola, das famílias e da comunidade local; a confiança de que o trabalho integrado e interdisciplinar pode ser realizado coletivamente [...]” (p. 45).

Trabalho integrado coletivo e dialogado

Título: Trabalho integrado coletivo e dialogado
Fonte:  
Gaia Schüler (2023c, 2023d, 2023e, 2023f, 2023g)
Elaboração: 
Prosa (2025).

Na mesma direção, Minuzzi, Baccin e Coutinho (2019), ao analisarem uma PPI desenvolvida no IFFAR, evidenciam o 

[...] comprometimento entre os alunos e professores envolvidos, a interdisciplinaridade alcançada, criticidade e a potencialidade da própria proposta da PPI como articulador entre a formação humana integral, educação omnilateral e a politecnia (p. 250).

Vê-se que é vasta a produção de relatos e de análises de experiências de práticas integradoras consideradas exitosas, as quais podem ser encontradas procedendo-se à pesquisa segundo os parâmetros já indicados neste capítulo.