cAPÍTULO 2

Pensando na diversidade: quem são os estudantes da EPT? (Parte I)

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A diversidade humana, social e cultural não deveria ser razão para conflitos e sofrimentos; no entanto, situações de preconceito, discriminação, bullying, violências físicas e simbólicas e de exclusão são frequentes, inclusive no espaço escolar. 

Juarez Dayrell (2001) argumenta que a escola é um espaço dinâmico, um lugar sociocultural que abarca duas dimensões, ou seja, ao mesmo tempo em que é pautado por regras e normas é, também, constituído por sujeitos diversos em redes de relações, tramas sociais, confrontos e interesses diversos. A escola é um espaço sociocultural.

Miriam Abramovay destaca que há escolas que excluem direta ou indiretamente os estudantes, no sentido de que uma “escola que exclui os seus alunos, não respeita as diferenças, é elitista, baseada em um modelo de escola que durante muitos anos atendeu a elite brasileira” (2008, p. 2).

Contudo, suscitar reflexões a partir da diversidade dos sujeitos escolares pode ser uma forma de subsidiar o fazer pedagógico, na intenção de agregar elementos de debate para possíveis estratégias a serem adotadas no manejo dos conflitos, na prevenção das violências, e, portanto, fazer da escola um local verdadeiramente inclusivo para todo e qualquer indivíduo (Silva; Oliveira Almeida; Almeida, 2022).

card do curso

Título: A sala de aula como um espaço diverso
Fonte: 
Prosa (2024a).

Em meio à diversidade humana, vários grupos não se enquadram no padrão de sujeito masculino, branco, heterossexual, sem deficiência e de classes privilegiadas, e, por serem “diferentes”, sofrem preconceito, discriminação e muitas vezes são excluídos. Essa realidade também ocorre na EPT e, para evitar isso, é preciso conhecer a diversidade dos estudantes e refletir sobre o que é possível fazer para eliminar essas situações depreciativas e violentas e, assim, fazer da sala de aula um local de fato inclusivo.

Em termos práticos, isso pode significar a elaboração de estratégias educacionais que auxiliem tanto os professores e demais funcionários da escola quanto os alunos, para lidarem com as diferenças sociais e culturais, assim como para respeitarem crenças e valores que não são comuns a todos.

Conheça o Programa Escola que Protege!

O programa Escola que Protege foi criado e regulamentado pelo Decreto Nº 12.006/2024 em conformidade com a Lei Nº 14.643/2023. Trata-se da principal iniciativa do MEC na operacionalização do Sistema Nacional de Acompanhamento e Combate à Violência nas Escolas (SNAVE).

A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi/MEC) é responsável pelo programa, bem como pela definição de outras políticas de inclusão e diversidade no âmbito do MEC.

Para saber mais, acesse: https://www.gov.br/mec/pt-br/escola-que-protege 

Nessa primeira parte do respectivo capítulo, tomando como ponto de partida a prática social na sociedade atual com suas discrepâncias, desigualdades, seus antagonismos e as lutas de classe, propomos a reflexão acerca do trabalho como atividade humana central e princípio ontológico do ser social. Dessa forma, o trabalhador, cuja objetivação pelo trabalho produz o necessário à reprodução humana, é o principal protagonista da construção sociohistórica que vivenciamos. Pelo trabalho, o ser humano transforma a natureza e se transforma, produzindo também (além de riquezas materiais)  a cultura, a ciência e a tecnologia. Por isso, é necessário pensar em uma proposta educacional comprometida com a formação humana omnilateral, isto é, de forma integral.

Nessa perspectiva, a práxis, a classe trabalhadora e o mundo do trabalho precisam estar presentes na fundamentação não só teórica como política das práticas educativas inclusivas na EPT. 

A preparação para a vida em sociedade e para o mundo do trabalho tem, na EPT, o lócus privilegiado da inclusão e fundamento da diversidade presente na sociedade e nas relações sociais que nela são constituídas. Ter a capacidade de incluir e conviver com as multiplicidades humanas é condição indispensável para todos que interagem com (e mediam) as particularidades culturais, de gênero, de orientação sexual, de território, de movimentos sociais e tantas outras que o ser humano estabelece para a produção, reprodução e manutenção da vida. 

É imprescindível apreender a questão de classe social como especificidade (quando se levanta o lugar social na produção e apropriação da riqueza socialmente produzida) e como condição ontológica da espécie e gênero humano. Contudo, como na sociedade hegemônica atual essa condição é desconstruída e deformada, evidencia-se a produção da exploração, das apartações, opressões e desigualdades.

Os estudantes da EPT são, em sua grande maioria, trabalhadores ou filhos de trabalhadores, de nível socioeconômico mais baixo, aqueles que Ricardo Antunes (2009) denomina de “a-classe-que-vive-do-trabalho”. Esse conceito será trabalhado nas próximas páginas, mas antes, convidamos você a fazer um exercício reflexivo acerca das condições de alienação de trabalho dos estudantes da EPT, para que assim possamos ampliar os conhecimentos e maneiras de como alcançar a efetivação da formação integrada omnilateral em que a EPT está assentada.