É possível aceitar o diferente e, ainda assim, colocar-se no lugar do outro?

Os conceitos de alteridade e empatia nos ajudam a refletir sobre a questão acima. A palavra alteridade tem origem no latim, na palavra alteritas, em que 'alter' significa “outro” e 'itas' remete a “ser”. Em sua raiz etimológica, alteridade significa “ser o outro”. Complementando a etimologia da palavra, no dicionário Aurélio (Holanda, 2004), alteridade significa “qualidade do outro ou do que é diferente” (p. 159).

Partindo desses dois significados, podemos dizer que a alteridade é o ato de perceber a diferença e que o “eu” deve conviver com os outros, por mais diferentes que eles possam ser e parecer. Conviver é, pois, “viver junto” dividindo os mesmos espaços, tendo acesso às mesmas oportunidades, garantindo os mesmos direitos, com respeito e empatia. Mas muito mais que um conceito, alteridade é uma prática: consiste em reconhecer a individualidade, em aceitar e respeitar o direito da pessoa de ser diferente e livre para se expressar, viver e fazer suas escolhas; é entender as angústias e dificuldades do outro e tentar colocar-se em seu lugar. É também reconhecer que todas as diferenças devem ser respeitadas. Nesse sentido, segundo Porfírio, "[...] o reconhecimento da alteridade é o primeiro passo para construir-se uma sociedade democrática e mais justa" (s.d., p.1).

Na língua portuguesa, a palavra mais utilizada e que corresponde ao termo alteridade é a palavra empatia. Entretanto, embora se complementem, não são a mesma coisa.

Praticar a alteridade, isto é, compreender as dores, os sentimentos, os preconceitos, as rejeições e as situações difíceis que o outro enfrenta por ser diferente, implica projetar-se no lugar do outro e sentir suas questões (mesmo não estando na mesma situação), e isso é o que chamamos de empatia – que nada mais é, senão, que o ato de exercer a alteridade.

Alteridade pressupõe reconhecimento e respeito pelas diferenças, enquanto empatia é colocar-se no lugar do outro e acolher seus sentimentos.

Para refletir: alteridade e empatia

Quantas vezes não percebemos (ou não aceitamos) que o outro é diferente e exigimos dele o mesmo desempenho, a mesma habilidade ou até a mesma competência, de maneira generalizada e homogeneizadora? Quantas vezes queremos que todas as pessoas pensem, sintam e ajam como nós? Diante de uma situação de injustiça, exercemos a empatia ou julgamos o outro e até achamos que ele é merecedor do problema que vivencia? Quando pensamos nas políticas afirmativas, exercemos a empatia ou achamos que determinada pessoa ou grupo não merece tal favorecimento?

Reflita sobre esses questionamentos e registre seus pensamentos em seu Memorial e/ou siga as instruções de seu tutor.

É possível discriminar de forma “positiva”?

Para entendermos a ideia de ação afirmativa, é imprescindível saber a diferença entre discriminação negativa e discriminação positiva.

Discriminar uma pessoa de forma negativa é tratá-la com preconceito, ofendê-la e até agredi-la em sua humanidade, contribuindo para seu sofrimento e desigualdade, segregando-a do convívio social. Já a discriminação de forma positiva intui a promoção de um maior bem-estar do grupo discriminado. A palavra 'discriminação' é tomada no sentido de separação, distinção, e está associada ao princípio da equidade. Inclusive, uma das formas mais comuns de discriminação positiva são as Políticas de Ações Afirmativas (PAA).

As Políticas de Ações Afirmativas são políticas públicas ou privadas que alocam recursos em benefício de pessoas pertencentes a grupos discriminados e vitimados pela exclusão. Segundo o glossário elaborado pelo professor Luiz Campos, em 2021, que está presente no site do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa,

trata-se de medidas que têm como objetivo combater discriminações étnicas, raciais, religiosas, de gênero, de classe ou de casta, aumentando a participação de minorias no processo político, no acesso à educação, saúde, emprego, bens materiais, redes de proteção social e/ou no reconhecimento cultural

(GEMAA, 2021).

Como exemplos de PAA, temos: a determinação de cotas mínimas para ingresso em universidades públicas e para a participação em concursos e na política; a preferência em atendimentos no serviço público; os empréstimos com taxas especiais; a inclusão de pessoas com deficiência nas escolas regulares, dentre outras.

Para saber mais sobre Discriminação Positiva e Políticas de Ação Afirmativas, visite o link: https://gptw.com.br/conteudo/artigos/acoes-afirmativas/Cartazes dos filmes “Você Não Estava Aqui” e “Eu, Daniel Blake”

Título: Discriminação positiva e Políticas de Ação Afirmativa
Fonte: Schüler (2023a); Schüler (2023b); Schüler (2023c).
Elaboração: Prosa (2024).

Após discutirmos sobre as discriminações positivas e ações afirmativas, vamos refletir sobre os conceitos de inclusão e integração.

Incluir é o mesmo que integrar? Há alguma diferença importante nesses dois conceitos enquanto práticas não discriminatórias?