A trajetória de constituição da Educação de Jovens e Adultos (EJA), conforme evidenciada nos capítulos anteriores, resulta de um longo processo de lutas pelo reconhecimento do direito à educação daqueles que não concluíram a Educação Básica na “idade própria” e pelo reconhecimento das especificidades formativas dos seus estudantes.
Posto isto, o que considerar sobre os estudantes da EJA na elaboração do currículo para “torná-lo tanto ensinável como aprendível por alunos de diferentes etapas e idades”? (Young, 2014, p. 198).
É preciso destacar uma premissa fundante: que a participação e a interação dos estudantes em diversos locais resultaram na aprendizagem e na construção de saberes necessários à afirmação da vida material e cultural. Continuaram o seu desenvolvimento e, por meio deste, respondem aos desafios da vida. Portanto, quando chegam à escola, os jovens e adultos já experimentaram operações com os cálculos matemáticos e com a linguagem (Silva, 2011).
Para compreender melhor como os saberes que os jovens e os adultos trazem para a sala de aula podem contribuir para os processos formais de ensino e aprendizagem, veja as indicações de leitura abaixo:
- Saberes da Experiência de Estudantes Jovens e Adultos: conhecer para valorizar, de Maria Izabel Costa da Silva e Rony Cláudio de Oliveira Freitas;
- Os saberes e dizeres matemáticos dos alunos da EJA: “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”, de Leila Carla dos Santos Quaresma e Reinaldo Batista dos Santos.
Para Klein (2007), o processo educativo ocorre de duas formas:
Título: O processo educativo no cotidiano e em espaços de aprendizagem sistematizada
Fonte: Klein (2007).
Elaboração: Prosa (2025h).
Como a escola, um espaço de socialização e apreensão do conhecimento sistematizado (científico, artístico, filosófico, tecnológico), deve colocar-se diante dessa cultura e saberes apropriados e construídos pelos estudantes da EJA?
Para Paulo Freire (2019b), a compreensão da realidade dos estudantes, das condições estruturais em que se forjam seu modo de pensar e sua linguagem, deve ser o ponto de partida do diálogo pedagógico e o estabelecimento do conteúdo programático de ambos, professores e estudantes. É nessa circunstância que devem ser investigados e elencados o universo temático e os temas geradores que irão nortear o processo de ensino e aprendizagem. Freire (2019b) inseriu, no processo de alfabetização de adultos, os saberes e a cultura dos estudantes,
o seu pensamento-linguagem referido à realidade, a sua visão de mundo em que se encontram envolvidos “seus temas geradores”
Indicação de vídeo: Alfabetização em Angicos – Pedagogia de Paulo Freire, Sala de Notícias Canal Futura.
Depois de assistir, responda às seguintes perguntas:
1) O que foram as 40 horas de Angicos? O que você destaca de significativo nessa experiência de alfabetização?
2) O que quer dizer a expressão "fome da cabeça"? Qual a sua relação com o período histórico apresentado no vídeo? Ela continua atual? Nos ajuda a compreender a educação brasileira? Explique.
3) Como a experiência das 40 horas de Angicos pode inspirar nossas ações políticas e pedagógicas nas escolas e outros espaços educativos?
O Documento Base do Proeja (Brasil, 2007) reconhece que é necessário considerar os saberes produzidos no âmbito do trabalho e da cultura, em diversos locais, entre eles estão os constituídos por grupos de menor valor social no processo formativo.
Essa perspectiva compreende que partir das condições de vida dos educandos potencializa uma formação significativa, pois os torna partícipes da sua educação e cria um ambiente favorável para a apreensão dos conhecimentos sistematizados, que os colocarão como iguais aos que tiveram acesso ao conhecimento na “idade própria”. Poderão, então, construir sua emancipação e liberdade a partir da apropriação desse conhecimento teórico – o qual amplia e regula a compreensão das situações cotidianas (Silva, 2011) – e no exercício do pensamento crítico e político.