Uso crítico, reflexivo e ético das tecnologias digitais
Em suma, a inclusão digital engloba o acesso cotidiano, seguro e autônomo às ferramentas e tecnologias presentes na cultura digital por parte de todas as pessoas, bem como a alfabetização e o letramento digitais, para que elas possam utilizá-las como instrumentos para a ação social transformadora.
Ao colocarmos a questão nesses termos, o horizonte à nossa frente é o da cidadania digital (e-cidadania). Você já ouviu falar a respeito?
Como conversamos anteriormente, a especificidade da cultura digital está nas novas formas de comunicação e interação que foram possibilitadas pelas tecnologias digitais. A cultura digital se realiza no ciberespaço, que é um espaço aberto, interconectado, democrático e que, hoje, compõe o espaço público. Nesse sentido, a inclusão e a acessibilidade digitais se impõem, na contemporaneidade, como condições basilares para a participação no ciberespaço e para o pleno exercício da cidadania (Cabeda, 2004; Bonilla; Oliveira, 2011).
É cada vez mais comum a disponibilização de aplicativos e sites governamentais e de instituições públicas, sejam elas educacionais, de segurança, da saúde, da previdência, entre outras, que facilitam muito o acesso a documentos, à inscrição e ao acompanhamento de processos seletivos, à transparência das informações, à prestação de contas e à participação popular. Por outro lado, nos deparamos, cotidianamente, com uma grande quantidade de fake news sobre os mais variados assuntos, pessoas tendo seus dados pessoais roubados, sendo enganadas por meio de redes sociais ou sites de compras on-line, páginas governamentais sendo invadidas e outras criadas para disseminar ódio e incitar à violência.
Título: Diferentes ângulos de um mesmo ciberespaço
Fonte: Prosa (2021f).
Elaboração: Prosa (2024).
A democratização do acesso às tecnologias por meio da inclusão e da acessibilidade digitais estende a esfera pública para o âmbito virtual, acarretando inúmeras potencialidades para o exercício da cidadania, mas, também, gerando desafios e perigos a respeito dos quais devemos ter cautela (Sorj, 2018).
Segundo o sociólogo Bernardo Sorj (2018), sobre os efeitos do ciberespaço na vida política, é possível identificar dois posicionamentos:
Título: Efeitos do ciberespaço na vida política
Elaboração: Prosa (2024).
Para o sociólogo, ambos os posicionamentos estão corretos e são facilmente identificáveis em nosso cotidiano.
Dessa maneira, cabe aos atores sociais, especialmente aos da esfera pública, fortalecer as potencialidades virtuosas dos processos comunicativos e interativos na cultura digital de maneira a enfraquecer os aspectos negativos.
Nesse sentido, a cidadania digital articula-se a uma educação cívica para o uso crítico da internet, isto é, que propicie às pessoas proteger sua privacidade e defender a regulação pública dos bancos de dados pessoais disponibilizados na rede (Sorj, 2018). Podemos dizer, também, que a cidadania digital implica a utilização ética e crítica da IA para que não seja empregada “de maneira prejudicial a indivíduos específicos, grupos sociais, ou à própria coletividade.” (Andrade; Röhe, 2023, p. 47).
Vale lembrarmos, também, que, tendo como pressuposto a formação emancipadora que pretendemos promover como profissionais (ou futuros profissionais) da EPT, o pleno exercício da cidadania digital é condição para processos de auto-organização e de colaboração que podem se estruturar como bases para a superação da organização social vigente (Bonilla; Oliveira, 2011).
Em síntese, quando propomos uma conversa a respeito da EPT para todos na e para a cultura digital, estamos nos colocando em favor do acesso e do uso crítico, reflexivo e ético das tecnologias na formação de trabalhadores e trabalhadoras com vistas à ação transformadora. Para tanto, compreendemos que
a inclusão digital bem como a acessibilidade são pré-condições para a efetividade dessa formação e para o pleno exercício da cidadania na contemporaneidade.
No próximo capítulo da nossa Unidade Temática, falaremos a respeito das implicações da cultura digital para a prática pedagógica e da gestão na educação profissional e tecnológica.
