O que é trabalho?
A centralidade da categoria trabalho na teoria marxista resume a compreensão da atividade humana em geral. Especificamente no trabalho, encontra-se um princípio do processo educativo, como vimos no capítulo anterior. Compreende-se, então, que há uma educação inerente ao trabalho, uma contribuição fundamental de Karl Marx à formação humana.
Ao longo da história, o trabalho vem expressando a relação entre o ser humano e a natureza, constituindo-se como atividade vital humana, como espaço de formação do próprio homem no desenvolvimento de ações orientadas a fins.
O processo civilizador vem se materializando por diferentes formas e concepções de organização do trabalho, considerando os diversos períodos históricos do desenvolvimento das sociedades. Para a compreensão de cada forma e concepção de organização do trabalho nos diferentes ciclos históricos, é necessário ir ao cerne do processo sociocultural que os constitui. Como exemplo, destacamos, no Brasil, o trabalho escravo nos períodos Colonial e Imperial, o trabalho livre – assalariado ou não – e as mudanças nos processos de trabalho em atendimento aos interesses do capital já no período Republicano.
Ao longo do tempo, a atividade de trabalho (e o seu correlato processo de formação humana) vem evidenciando mudanças na capacidade do homem de executar operações cada vez mais complexas, seja a nível individual ou coletivo.
A organização da produção e do trabalho expressa determinada racionalização das atividades humanas, tendo por finalidade aumentar a produtividade social e o máximo proveito da elevação das forças produtivas. A divisão social do trabalho como parte do conjunto das forças produtivas é estabelecida pelas relações de produção, cujo desenvolvimento ocorre em função das necessidades, em que algumas são solucionadas e outras ampliadas em um movimento contínuo de busca de respostas aos carecimentos humanos. Ou seja, temos, então, a dinâmica da produção da vida material.
Segundo Marx e Engels, as diferentes composições das forças produtivas e das relações de produção são o que constitui a base econômica da sociedade – ou a infraestrutura. Por sua vez, a infraestrutura determina a superestrutura (Marx, Engels, s/d).
A divisão social do trabalho, além de ser uma forma de organização social, é também expressão da existência de diferentes configurações de propriedade privada, em conformidade com momentos históricos da sociedade. No capitalismo, a propriedade privada se estabelece pela separação entre os meios utilizados para o trabalho, de um lado, e o próprio trabalho, de outro. Ou seja, tal separação ocorre entre os proprietários dos meios de produção (capitalistas) e os que detêm a força de trabalho (capacidade de produzir riqueza material), a qual é submetida à venda sob forma de mercadoria.
Considerando a transitoriedade do capitalismo no seu devir histórico, a condição do trabalho alienado se apresenta como negatividade da manifestação humana em razão das condições de subsunção dos indivíduos aos ditames da divisão social do trabalho.
O trabalho, conforme demonstrou Marx, revela-se como uma contraposição entre seu aspecto de afirmação (por ser criador) e seu aspecto de negação das potencialidades do ser humano. Frente ao capital, é trabalho alienado, mas também atividade vital humana.
Como trabalho alienado, ele expressa a negação de toda a manifestação e processo de formação humana. Como atividade vital humana, ele revela a humanização da natureza e, ontologicamente, do próprio homem, pois, ao agir sobre, ela produz conscientemente suas próprias condições de vida humana e se desenvolve omnilateralmente.