A perspectiva omnilateral da formação humana

Perspectiva omnilateral da formação humana: o que é?

Trata-se de mais um conceito importante para nossa reflexão ao longo desta unidade temática. Ele também foi apresentado por Marx e remete à constituição plena do ser humano.

Omni vem do latim e significa 'todos, tudo, de todos os tipos'. Logo, omnilateral significa de todos os lados.

Maria Cristina Caminha de Castilhos França
card do curso

A perspectiva omnilateral concerne a uma concepção direta e profundamente contraposta à ideia de formação unilateral, danificadora e empobrecedora do ser humano, resultante dos processos de segmentação, exclusão e alienação humana. Essa formação se torna mais agudamente nefasta à medida que a apropriação privada dos bens produzidos socialmente avança sucessivamente em contraste com o aumento da riqueza produzida pela humanidade.

Historicamente, o desenvolvimento unilateral do trabalhador no capitalismo o acompanha desde o período da manufatura, quando, contraditoriamente, o trabalhador coletivo e a força coletiva, responsáveis pela geração do valor extra apropriado pelo sistema capitalista, emergiu. Com a maquinaria, o proletário passou a ser sujeitado à imposição da especialização estreita e à execução de operações simples e repetitivas, levando-o à corrosão da sua capacidade criativa e à limitação das suas habilidades físicas.

Para ilustrar o que acabamos de ver, consideremos o filme Tempos Modernos (1936), de Charles Chaplin.

Trata-se de um longa que retrata de forma cômica uma realidade exploradora e degradante de trabalho. O trabalhador é reduzido ao apêndice da máquina, condenado ao trabalho repetitivo, parcial e empobrecido. Transferiram-se, através da mecanização, as habilidades e os saberes do trabalhador para a máquina.

Segundo Marx, “não só os trabalhos parciais específicos são distribuídos entre os diversos indivíduos, como o próprio indivíduo é dividido e transformado no motor automático de um trabalho parcial” (2013, p. 540).

Entretanto, Marx visualiza que das fissuras do capitalismo brotam contradições, dando passagem ao “indivíduo dividido” para o “indivíduo integralmente desenvolvido”. Esse acesso pode ser facilitado pelas escolas politécnicas e agronômicas, ao associarem o trabalho com a educação e ao integrarem os conhecimentos voltados ao trabalho produtivo com a educação integral e corporal. 

Trabalhador estudando e assim ganhando o mundo

Título: Apropriação dos conhecimentos
Fonte: Prosa (2024d).

Assim, na concepção de Marx, a classe trabalhadora pode construir uma educação tecnológica articuladora dos domínios teórico e prático das bases tecnológicas e epistemológicas do processo produtivo. Essa seria uma conjunção relevante para a condução consciente da luta social e política relativa ao controle da produção e dos conhecimentos que lhe dão suporte.

Com base no que foi exposto, a educação com compromisso político implica necessariamente a compreensão das contradições próprias dessa realidade e a capacidade de nelas intervir, tendo em vista a promoção da transformação da realidade social. 

Afinal, a educação deve promover o desenvolvimento do pensamento reflexivo, crítico e criativo dos estudantes a partir de conceitos e práticas concretas, que vão além da sua apresentação e que, por meio da sua atividade, os estudantes possam não somente compreender – cientificamente e politicamente – a realidade por eles vivida, mas também intervir nela para transformá-la. 


Pense um pouco nessas afirmações em destaque (sobre o desenvolvimento reflexivo, crítico e criativo dos estudantes). Como poderíamos entendê-las melhor e explicá-las para alguém interessado em discutir a EPT? Agora, imagine você, como docente, abordando este tema com os estudantes.

Considere essas reflexões durante a construção do seu Memorial. Voltaremos a essa questão mais adiante.

Maria Cristina Caminha de Castilhos França
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