As dimensões do trabalho na EPT brasileira

Se o trabalho é fundamento constitutivo do ser humano, real, social, criativo e histórico – o ser da prática –, porque ele também o desumaniza? Essa problemática também é levantada por Machado (2023, p. 7) quando discute sobre o trabalho como referência para a formação humana e a democracia. A autora apresenta a seguinte questão:

[...] se o trabalho pode ser alienante e embrutecedor, como ser formador, humanizador e de conquista democrática?

Saviani (2007) nos fala que o trabalho e a educação são especificidades humanas e são indissociáveis, pois, à medida que o ser humano trabalha e cria, ele se educa e educa. Ele aprende o fazer e tem capacidade de transmitir esse saber.

Com o modo de produção capitalista, centrado no consumo e na troca de mercadorias com a intenção de gerar valor, verifica-se a separação entre trabalho e educação, bem como entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, constituindo, assim, dois tipos de escola: 

[...] a proposta dualista de escolas profissionais para os trabalhadores e “escolas de ciências e humanidades” para os futuros dirigentes; e a proposta de escola única diferenciada, que efetuava internamente a distribuição dos educandos segundo as funções sociais para as quais se os destinavam em consonância com as características que geralmente decorriam de sua origem social.

(Saviani, 2007, p. 159, grifos nossos).

A EPT no Brasil nasce marcada por essa dualidade: uma escola destinada às classes abastadas e outra destinada aos trabalhadores para o desenvolvimento do trabalho manual e funcionamento da estrutura de (re)produção do capital, bem como a manutenção de privilégios de classe.

Mészáros (2008), em seu livro Educação Para Além do Capital, faz a seguinte reflexão: “Diga-me onde está o trabalho em uma determina sociedade, e eu te direi onde está a educação”. Ou seja, a organização do trabalho e como ele se configura em uma determinada sociedade implica diretamente o modelo de educação e os processos educativos daquela sociedade.

 A influência do trabalho na educação e da educação no trabalho

Título: A influência do trabalho na educação e da educação no trabalho
Fonte: Prosa (2024a).

Para refletir: contrastando o trabalho e a educação

Observemos em nossa sociedade, comunidade e no território em que vivemos: onde está o trabalho? Quais são esses tipos de trabalho? Quem vende a força de trabalho e quem controla o trabalho? Como é a organização do trabalho? É um trabalho hierarquizado e regulamentado? Que tipo de gente esse trabalho produz? Esse trabalho humaniza ou desumaniza? 

A partir daí podemos olhar para a escola, para a educação.

Onde está a educação?

Título: Onde está a educação
Fonte: Ministério da Educação (2024). 
Elaboração: Prosa (2024).

Podemos fazer esse exercício de observação e de anotação e dialogar com os colegas, construindo um panorama do trabalho e da educação. Não se esqueça de registrar sua reflexão no seu Memorial ou de seguir as orientações do tutor do curso.