capítulo 3

Formação Humana Integral versus Pragmatismo: a EPT em movimento e em disputa

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[...] Os novos projetos pedagógicos não nascem das ideias dos intelectuais; ao contrário, eles são determinados pelas mudanças ocorridas no mundo do trabalho, que apresentam diferentes demandas a cada etapa de desenvolvimento das forças produtivas, em função das características que assume a divisão social e técnica do trabalho.

(Kuenzer, 1999, p. 18).

Com esta reflexão feita por Acácia Kuenzer, iniciamos este terceiro e último capítulo da Unidade Temática Trabalho e Educação I, cuja proposta é discutir as concepções de formação humana em disputa no interior da EPT e sua materialidade nos currículos e na respectiva legislação brasileira. Dessa forma, podemos avançar em nossa caminhada enquanto profissionais da EPT.

Acácia Kuenzer em seu texto “Educação profissional: categorias para uma nova pedagogia do trabalho” (1999) traz reflexões muito importantes sobre como as mudanças no mundo do trabalho afetaram e afetam diretamente a relação entre seres humanos e trabalho e, consequentemente, a relação no meio de trabalho e no meio da educação e do trabalho, constituindo-se a base dessa nova pedagogia.

Kuenzer apresenta, ainda, algumas características que o atual modelo de acumulação flexível do capital exige do trabalhador. Diferentemente de aprendizagens de base rígidas e repetitivas de processos de trabalho para a execução de determinadas tarefas ao longo de sua vida produtiva, próprias do modelo de produção taylorista-fordista, o paradigma vigente exige do trabalhador aprendizagens flexíveis, que significam demonstrar “capacidade de adaptação a novas situações” (1999, p. 19). 

Destacamos, aqui, de acordo com Kuenzer (1999, p. 19), algumas características e exigências do paradigma vigente colocadas ao trabalhador, o qual deve desenvolver capacidades cognitivas superiores e de relacionamento, tais como: 

As exigências do trabalhador

Título: As exigências do trabalhador
Fonte: Prosa (2024d).

Essas exigências impostas ao trabalhador – ajustável à atual fase de acumulação flexível do capital – aliadas às situações de desemprego estrutural, precarização do trabalho, exclusão e aprofundamento das desigualdades sociais, influenciam e modelam o tipo de formação profissional que se espera desse “novo” trabalhador que, para acrescentar, tem sua condição de cidadania negada.

A cidadania negada se relacionada ao fato de que o trabalhador produz riqueza com o seu trabalho, mas não usufrui dela, sendo-lhe subtraído o direito ao trabalho digno, à assistência à saúde com qualidade, à moradia, à educação e ao lazer.

Como dissemos no capítulo 2, quando tratamos do mundo do trabalho, a formação profissional está, inelutavelmente, no centro da disputa entre capital e trabalho por dispor a construção da identidade do trabalhador e, também, as formas de potencializar sua força de trabalho, sua capacidade de produzir e transformar.

Daí que a formação humana do trabalhador no âmbito da EPT se desenvolve em constante movimento contraditório e em permanente disputa, essa que é revelada por duas abordagens educacionais/pedagógicas e dois tipos de projetos societários antagônicos, como destacam Araujo e Rodrigues (2011, p. 7):

Abordagens educacionais e projetos societários antagônicos

Título: Abordagens educacionais e projetos societários antagônicos
Fonte: Araújo e Rodrigues (2011). 
Elaboração: Prosa (2024).

Para compreender melhor como essas pedagogias e perspectivas de formação humana se revelam e se materializam no interior da EPT, apresentaremos os embates no âmbito da política pública educacional e do currículo e seus interlocutores principais.