CAPÍTULO 1
Experiências inspiradoras de ensino integrado no Brasil contemporâneo

Inicialmente, situaremos a abrangência da expressão "ensino integrado na EPT" de forma mais precisa possível, assim como o vasto campo de atuação dos docentes nessa modalidade. Legalmente, o ensino integrado pode ocorrer:
- no Ensino Médio e Educação Profissional Técnica de Nível Médio (EPTNM), doravante ensino médio integrado (EMI);
- no Ensino Médio e em cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC) ou de qualificação profissional;
- no Ensino Fundamental e em cursos FIC ou de qualificação profissional.
Para além do plano legal, o ensino integrado (com base na concepção de formação integral/omnilateral dos estudantes) aplica-se a qualquer nível ou etapa da educação, seja de caráter propedêutico, profissionalizante, ou na confluência dos dois, pois se fundamenta na integração dos conhecimentos em detrimento de sua fragmentação.
A primeira possibilidade legal, o EMI, vem ocorrendo em cursos destinados a adolescentes dos 15 aos 17 anos de idade (ou próximo a isso) e na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), por meio da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT) , de redes estaduais, municipais e, em menor escala, na esfera privada. Segundo o Censo da Educação Básica de 2023 (Brasil, 2024a), a matrícula total do EMI no Brasil (sem considerar a modalidade EJA) foi de 782.129, sendo 509.614, 215.193, 48.041 e 9.281 nas esferas estaduais, federais, privadas e municipais, respectivamente. Observe o infográfico abaixo:
Título: Matrículas no Ensino Médio Integrado
Fonte: Brasil (2024a); Gaia Schüler (2023a).
Elaboração: Prosa (2025a).
As outras duas possibilidades vêm sendo desenvolvidas principalmente na modalidade EJA e em cursos de FIC, integrados ao Ensino Fundamental ou ao Ensino Médio.
Além disso, sobre o ensino integrado, é preciso esclarecer que não se trata apenas da integração entre as disciplinas da Formação Geral Básica (FGB) e da formação profissional. A integração é um princípio orientador do currículo em geral que se opõe à fragmentação curricular. Assim, em um currículo organizado por disciplinas, busca-se a integração entre as disciplinas em oposição à sua fragmentação.
Ao tratarmos de ensino integrado na EPT, nos referimos a dois níveis de integração. A integração entre as disciplinas da FGB dos estudantes, em um primeiro nível, e a integração entre elas e o conjunto de componentes que constituem a formação profissional específica de cada curso de EPT. Por isso, no caso do Ensino Médio, a rigor temos o ensino médio integrado – integrado à Educação Profissional Técnica de Nível Médio (EPTNM) que, para simplificar a notação, sintetizaremos como EMI.
Feitas essas considerações iniciais, constatamos que é inviável abranger todas as possibilidades e especificidades nesta unidade temática, sob o risco de incorrer em superficialidade. Diante disso, optamos por enfatizar a discussão no EMI. Na unidade temática "Práticas educativas na EJA-EPT: teorias e didáticas", também deste módulo, serão tratadas outras especificidades. Os princípios gerais da integração são comuns às diferentes possibilidades de ensino, de modo que as práticas educativas integradoras podem ser adequadas e transpostas para os outros cursos da EPT.
Neste capítulo, discutiremos “experiências inspiradoras” em um plano institucional, considerando três espaços:
- Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT);
- Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), vinculada à Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ);
- Redes estaduais de educação, com ênfase na experiência do Paraná (PR).
Escolhemos três institucionalidades distintas para exemplificar como a decisão política e as condições materiais são essenciais para criar um ambiente inspirador e indutor do ensino integrado, seja qual for a institucionalidade.
A partir desse panorama inicial, revisitaremos, ao longo dos próximos capítulos, alguns desses espaços institucionais previamente abordados, com o objetivo de aprofundar a análise de suas práticas desenvolvidas.