Território
Historicamente, foram elaboradas diversas definições de território. Apresentamos duas concepções; elas não são idênticas, mas convergem. Primeiramente, a que foi elaborada e aperfeiçoada pelo geógrafo baiano
, que expande as concepções anteriores para pensar o território como:- Uma teia de relações;
- Um espaço com história, onde o natural e o social se entrelaçam e o drama humano acontece;
- Uma totalidade, na sua perspectiva econômica, social e cultural, incluindo as lutas, os processos, as alianças etc., no sentido de compreender como o território se formou e como ele se mantém e se desenvolve.
O território é o espaço de todos, abrigo de todos... é o espaço da existência e da coexistência
Já a concepção desenvolvida pelo geógrafo britânico David Harvey nos ajuda a compreender que o território é parte fundamental da expansão e da acumulação e que sua história (territorial) contém elementos fundamentais para compreender como o capitalismo se desenvolve em diferentes contextos. Ou seja, quais projetos que implantou, as consequências desses processos e o que intenciona implantar futuramente, permitindo, assim, que os sujeitos sociais populares possam se opor e contrapor a esses projetos originais, fornecendo alternativas mais inclusivas e menos danosas às populações e ao meio ambiente.
O capitalismo é um sistema que cria e recria continuamente as configurações territoriais... a acumulação por despossessão redefine as relações territoriais e sociais
Título: Território para Milton Santos e David Harvey
Fonte: Lobo (2009) e TV Brasil (2012).
Elaboração: Prosa (2024j).
Este é o significado de um dos princípios pedagógicos emancipatórios, a intervenção social. Esta se dá em um espaço concreto – no caso, o território.
Quando se fala em território, não estamos falando especificamente do território legal, estabelecido em norma, mas daquele onde se situa a escola, que tanto sofre sua influência como a influencia. Costuma-se chamar este território de entorno da escola, não apenas o seu entorno imediato (o bairro, por exemplo), mas incluindo o entorno mediato, aquele que se estabelece por relações com comunidades, municípios e grupos sociais.
Apesar do território ser mais que uma questão legal, mas algo dinâmico, complexo e construído historicamente, é importante compreender que as correlações de força resultam em normas (leis, decretos etc.) sobre aquilo que existe no mundo real. Por exemplo, foi a partir de uma crítica da política territorial instituída por governos anteriores que, em 2003, o governo passou a discutir os territórios rurais sustentáveis. O Brasil tem uma população rural imensa, inclusive uma “oculta" como se fosse urbana, nos pequenos municípios, que possuem um entorno rural muito forte. Por vezes, não se dá conta da dimensão real do chamado “Brasil profundo”, esse interior tão diverso que suscita muitas questões a serem resolvidas. Nessa linha, discutiu-se muito no Ministério do Desenvolvimento Agrário a questão dos territórios rurais enquanto elementos cruciais para o desenvolvimento sustentável, que obviamente seria de caráter socioeconômico e ambiental.
É preciso imaginar que o território e as questões territoriais são tão conteúdos quanto metodologia e prática em uma Educação Profissional emancipatória.
Fala-se “conteúdo” no sentido de que, ao compreendermos a tecnologia como uma ciência humana, consideramos que ela está sujeita a condicionantes históricos, geográficos, econômicos, culturais etc. Então, territorializar as discussões sobre tecnologia é muito importante para que os docentes, os estudantes e a população dos entornos possam situar-se no mundo, no seu estado, no seu território, no seu município, no seu distrito e no seu bairro.
Do ponto de vista metodológico e prático, o processo de criação coletiva e interdisciplinar de tecnologias sociais é muito importante, e por definição deve ser apropriado para aquele determinado local. Baseadas em um mesmo corpus científico específico, mas em diálogo permanente com o contexto territorial. Uma tecnologia que se apreende e se aprende do ponto de vista histórico e geográfico (e é aplicada em um contexto específico de um território), é chave para mudanças de consciências e de vidas, tornando a Educação Profissional realmente emancipadora.