Pesquisa e trabalho pedagógico

O excerto de Paulo Regius Neves Freire (1921-1997), conhecido nacional e internacionalmente como Paulo Freire, expõe a relação abordada neste capítulo entre trabalho pedagógico e pesquisa, especialmente no campo da Educação: 

Paulo Freire

Paulo Freire foi um educador e filósofo brasileiro, nascido em Recife, em 1921. Reconhecido como Patrono da Educação Brasileira, Freire é conhecido principalmente por sua obra Pedagogia do Oprimido e pelo desenvolvimento de um método inovador de alfabetização de adultos, focado no diálogo e na conscientização crítica. O brasileiro se consagrou como um dos pensadores mais conceituados na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica ao redor do mundo e se tornado referência internacional.
Título: Paulo Freire Fonte: Novo Horizonte de Economia Solidaria (2011). Elaboração: Prosa (2024).

 

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Título: Paulo Freire sobre a pesquisa e o ensino
Fonte: Freire (1996).
Elaboração: Prosa (2025d).

O trecho acima foi elegido, pois os conhecimentos mediados pelos professores em aula geralmente sistematizam rigorosas pesquisas. Inclusive, essas pesquisas podem ter sido até mesmo produzidas em sala de aula, independentemente da modalidade de ensino. Para tanto, os professores se constituem como aqueles que orientam o estudante em seu processo criativo.

Nessa perspectiva, Freire (1996) admite a pesquisa como premissa para o ensino: ambos são educativos e indissociáveis. Em correspondência de sentidos, Maria Isabel da Cunha (2002) argumenta que, ao considerar o trabalho pedagógico com pesquisa, é necessário reformular a lógica do ensino tradicional, embasando-o na pesquisa. Então, é apenas a partir da transformação da lógica de ensino existente que se torna possível construir um modelo de aula que seja de fato integrador (Cunha, 2002).

Essa abordagem permite aos estudantes o desenvolvimento de autonomia, de responsabilidade, de disciplina e de busca por solução de problemas, ou seja, de uma prática cidadã  (Anastasiou e Alves, 2006). Assim, a pesquisa atribui papel central ao discente, tornando-o mais ativo e responsável pelo seu próprio processo de ensino/aprendizagem. Uma vez que assume o protagonismo, esse jovem estará mais apto a fazer a diferença em diferentes espaços sociais. 

Ainda, é importante salientar que a dialética entre ensino e pesquisa é responsável, em grande medida, pela produção do conhecimento e pela formação de consciência histórica. Ao integrar pesquisa e ensino, busca-se desenvolver o protagonismo e o engajamento de jovens e adolescentes, formando-os para enfrentarem diferentes desafios e exercerem a cidadania com autonomia (Cunha, 1996). Em outros termos, trata-se de uma intervenção pedagógica (Damiani et al., 2013), como se espera- na formação humana integral e politécnica (mencionada no capítulo anterior). 

Agora, cabe referenciar aqui dois níveis de pesquisa:

• I) a pesquisa como atividade dos professores, os quais objetivam entender melhor seu trabalho e o resultado deste, por meio da contínua auto-análise, configurando-se em professores-pesquisadores; e
• II) os professores que, academicamente, produzem pesquisa para responder a questões relativas à ciência que orienta seu trabalho, no âmbito de programas de Pós-Graduação.

Nos dois casos, professores pesquisam para produzir conhecimento e transformar seu trabalho, inserindo-se em movimentos sociais que lhes convocam a analisar prática e teoria, e organizá-las de modo a interferirem no trabalho pedagógico.

Com efeito, a Resolução nº 6, de 20 de setembro de 2012, ao caracterizar as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Profissional Técnica, dispõe sobre a pesquisa como princípio pedagógico. Como tal, a pesquisa seria aprendida com vistas à produção do conhecimento, praticada toda vez que os estudantes objetivarem conhecer algo, para além do tempo escolar, adotando-a como uma atitude diante da vida. Implica questionamento, reformulação de teorias e conhecimentos existentes. Em decorrência,

Por isso, a pesquisa como pressuposto pedagógico é um dos caminhos para superar a separação entre pensar, agir, dirigir, realizar etc (Brasil, 2013). Assim, tendo por base a pesquisa, uma instituição educacional viabiliza possibilidades para os estudantes inserirem-se mais proficuamente no processo de produção do conhecimento, dando-lhe autonomia para pensar e agir cientificamente desde a Educação Básica.

As pesquisas na modalidade da EPT, além de abarcarem os fundamentos teórico-metodológicos e a linguagem rigorosa e científica, necessitam localizar espaços-tempo e abordar as relações sociais, a partir da análise da relação Trabalho e Educação, suas interfaces, complexidades e transformações. Assentam-se, também, na aposta de que os estudantes realizem projetos contextualizados e articulados, facilitando a compreensão do contexto e das contradições sociais, econômicas e políticas que determinam, também, o processo educativo (e nele, as pesquisas). 

Nessa perspectiva, pode-se apostar “[...] no poder transformador de uma educação politicamente orientada” (Kohan, 2020, p. 551) à democracia e à educação pública, de qualidade e justa. A exemplo:

Para tanto, os professores que trabalham na EPT, independentemente da esfera, podem inserir temas e projetos de pesquisa em suas aulas, permitindo aos estudantes o diálogo, a interlocução, a discussão e a análise dos resultados produzidos em suas pesquisas, tecendo e propondo temáticas a problemas.

Trata-se  de uma ação contextual realizada pelo sujeito em parceria com os demais, na qual se vinculam os processos educativos aos processos sociais, escolares e de vida à relação Trabalho e Educação (Machado, 2010; Vieira et al., 2019). Especificamente no caso da EPT, por meio da pesquisa, os estudantes inserem-se no entorno social, compreendendo as relações entre mundo do trabalho e capitalismo e, quem sabe, até propondo alternativas e transformando esse social.

Em suma, parte-se do suposto de que a pesquisa é um princípio que organiza o trabalho pedagógico e resulta na extensão, pois além de produzir conhecimento, produz os próprios pesquisadores que, autônomos, passam a elaborar, testar, aprofundar e até mesmo refutar suas elaborações rigorosas de tecnologia, trabalho, conhecimento, ciência etc.

Neste capítulo, foi proposto uma reflexão sobre a pesquisa na EPT como produção do conhecimento e garantia de insumos capazes de contribuírem na modalidade. Entendemos que a pesquisa é uma atividade que está na base do ensino e da extensão, e seu objetivo central diz respeito ao trabalho pedagógico realizado, como referido, a produção de conhecimento.