Trabalho pedagógico na EPT
Conceitualmente, entende-se trabalho pedagógico como:
[...] trabalho dos professores, ao selecionar, organizar, planejar, realizar, avaliar continuamente, acompanhar, produzir conhecimento e estabelecer interações, só possa ser entendido como trabalho pedagógico, imerso em um contexto capitalista, no qual a força de trabalho dos professores é organizada pelas relações de emprego e no qual os sujeitos agem em condições sociais, políticas. Entretanto, ainda que esteja imerso nas relações capitalistas, o trabalho pedagógico, por suas características, apresenta possibilidades de o sujeito trabalhador ir além, projetar-se no seu trabalho de modo a confundir-se e movimentar-se humanamente com ele, uma vez que uma matéria-prima é a linguagem
Ao desenvolver-se em um contexto específico, a EPT – resultante de uma política pública que forma, em sua maioria, a força de trabalho – determina especificidades e adensa características multifacetadas ao trabalho pedagógico, constituindo-o por contradições (Castaman, 2023). Isso requer comprometimento social do professor diante dos desafios dessa modalidade de ensino (Castaman et al., 2019).
Considerando os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, essas particularidades são exemplificadas, já que possuem em seu âmago a justiça social e, segundo essa legislação, a atenção aos aspectos econômicos e a possibilidade de criar e difundir tecnologias. Nessa perspectiva, tais instituições estão comprometidas com a formação integral dos trabalhadores (Brasil, 2010). Assim, os professores da EPT, trabalhadores da educação, necessitam fundamentar o trabalho pedagógico realizado tendo em vista este compromisso: garantir a formação humana integral e politécnica dos estudantes – que também são trabalhadores.
Por formação humana integral, admite-se o
[...] desenvolvimento total e multilateral, em todos os sentidos, das faculdades humanas e das forças produtivas, das necessidades e da capacidade de satisfazê-las
Por sua vez,
Politécnica significa, aqui, especialização como domínio dos fundamentos científicos das diferentes técnicas utilizadas na produção moderna. Nessa perspectiva, a educação de nível médio tratará de concentrar-se nas modalidades fundamentais que dão base à multiplicidade de processos e técnicas de produção existentes
Logo, a se assenta em uma compreensão de educação centrada no ser humano, consoante às suas características específicas e visando o seu desenvolvimento e integração no social (Frigotto, 2012).
Por vivermos inseridos em um campo de disputas, entende-se que o ensino não deve estar centrado no treinamento ou na formação para o mercado de trabalho, como mencionado na letra da música “Estudo Errado”, de Gabriel, O Pensador, no álbum “Ainda é só o começo” (1995). Na letra da música, podemos observar uma crítica a obrigatoriedade do ser humano em estar preparado para o mercado de trabalho e para a profissionalização:
[...] Eu tô aqui pra quê?
Será que é pra aprender?
Ou será que é pra sentar, me acomodar e obedecer? [...]
Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci
Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi [...]
Não tenho outra saída
Mas o ideal é que a escola me prepare pra vida
Discutindo e ensinando os problemas atuais
E não me dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais [...].
A letra da música de Gabriel, O Pensador remete à reflexão sobre a inserção social do trabalho pedagógico na sociedade capitalista. Refere-se a uma escola cujo objetivo central é preparar a força de trabalho para o necessário movimento de ampliação e manutenção do capital. Para tanto, aposta na educação escolar como meio para obtenção de emprego. Tal objetivo escolar, com dissonâncias e adaptações, existe desde a escola moderna, alterando-se conforme as adequações pelas quais a sociedade passa para conformar-se às exigências do capitalismo.
Nessa lógica, cabe aos estudantes reproduzir e não necessariamente compreender, desde que ascendam à série posterior, provando seu mérito para tal a partir do sucesso nas avaliações. Em discordância, a EPT tem como finalidade a educação integral do ser humano que consegue interpretar e propor no mundo do trabalho, como sujeito e cidadão.
Título: Educação integral vs Educação para o Capital
Fonte: Prosa (2025d).
Os professores, alocados na primeira proposta e inseridos na escola, mecanizam seu trabalho, tornando-o repetitivo. Romper esse ciclo implica assumir um trabalho pedagógico em acordo com os coletivos institucionais, partindo sempre de seu projeto pedagógico individual, a suma de seus conhecimentos, crenças e propósitos.
Para tanto, os professores – como protagonistas – assumirão um trabalho pedagógico contrário ao processo capitalista e de produção (Kuenzer, 2002). Eles desenvolverão, a partir da formação humana integral e politécnica, a articulação entre ciência, tecnologia, cultura, interação com o mundo do trabalho e consciência crítica de seus processos produtivos. Agindo assim, colaboram para a compreensão do trabalho como princípio educativo (Gramsci, 1982).
Para refletir: vivências escolares
Este é o segundo momento de reflexão desta unidade temática:
- Como foi sua trajetória escolar? Os processos de produção dos conhecimentos vivenciados valorizaram somente os conhecimentos científicos?
- Neste momento, um exemplo de filme interessante para reflexão é “Escritores da Liberdade”. O filme, de 2007, trata o trabalho pedagógico realizado por uma professora com jovens e adultos em um local marcado pela violência, pela falta de estímulo e pela marginalização relativa ao mundo do trabalho.
Lembre-se de registrar suas reflexões em seu Memorial e/ou de seguir as orientações dos seus professores e tutores durante essa atividade.
Na continuidade do capítulo, abordaremos a perspectiva do trabalho como princípio educativo.