Extensão: considerações iniciais

A atividade de extensão comumente objetiva estender a atividade de educação formal para além da instituição. E vai além: ao fazê-lo, divulga o conhecimento produzido, socializando-o e aplicando-o; revela o projeto científico da instituição; permite que os pesquisadores conheçam e interajam com a realidade; e testa os métodos, perspectivas teóricas e conhecimentos, remodelando-os e adaptando-os aos diferentes contextos. 

Sobretudo, via de regra, a extensão (como atividade síntese do trabalho pedagógico e da pesquisa) é também produção de conhecimento, na medida em que renova o projeto educativo institucional e o projeto pedagógico de cada professor ao submetê-lo ao social. Por essa razão, é importante frisar que

conhecer, na dimensão humana, que aqui nos interessa, qualquer que seja o nível em que se dê, [...] exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo


(Freire, 2017, p. 16).

E a atividade extensionista permite esse contato indelével dos sujeitos que passam a agir no mundo, produzindo uma

 [...] ação transformadora sobre a realidade

(Freire, 2017, p. 16).

Para fins de aprofundamento, sugerimos a leitura da obra Extensão ou Comunicação?, de Paulo Freire (2017).

Nesse texto, o autor, atento à evolução da educação do campo como política educacional do governo brasileiro, questiona e analisa como os técnicos – denominados 'extensionistas' – comunicavam-se com os produtores rurais. Nessa abordagem, Freire (2017) indaga a extensão enquanto prática de “invasão cultural”.

Trata-se de uma leitura interessante para que não se confunda atividade de extensão com atividade de imposição de conhecimentos científicos em detrimento de conhecimentos do senso comum. Realizar extensão implica ir ao encontro de diferentes culturas para aprender e socializar conhecimentos, segundo o professor Freire.

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Para aprofundar a reflexão sobre a extensão, sugerimos, abaixo, o trecho da palestra de Paulo Freire (USP/CDCC/São Carlos, 2014), no qual ele argumenta sobre a "ideologia da escolaridade". Segundo Freire (1996), essa ideologia acredita que o saber só se produz na escola, afirmando que se nega com isso o "conjunto de saberes da experiência feitos". 

Registre suas ideias em seu Memorial e/ou siga as instruções de seu professor e/ou tutor.

Título: A Escola e os saberes da experiência
Fonte:
USP/CDC/São Carlos (2014).

Com esses pressupostos, definimos a extensão diferentemente do senso comum (uma mera aplicação de conhecimentos), mas como tempo e espaço também de produção do conhecimento. Por essa razão, da mesma maneira, ela se centra no conhecer e, em decorrência, da

 

[...] reflexão crítica de cada um sobre o ato mesmo de conhecer, pelo qual se reconhece conhecendo e, ao reconhecer-se assim, percebe o ‘como’ de seu conhecer e os condicionamentos a que está submetido seu ato


(Freire, 2017, p. 16).

Salientamos que o conceito de extensão (como prescrição legal) é recente no Ensino Superior, embora seja uma ação há muito tempo realizada pelas instituições. Integrou inicialmente a tríade de exigências para o Ensino Superior exarada pela Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968.

Uma das primeiras referências à execução dessa exigência e de um conceito de extensão ocorreu no Fórum Nacional de Pró-reitores das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras (FORPROEX), na edição realizada em 1987. Na ocasião do FORPROEX, a extensão foi descrita com algumas características, tais como: atividade interdisciplinar, cultural, de caráter científico e político com vistas a integrar e transformar a relação entre a universidade e demais espaços sociais, de acordo com Sandra de Deus (2020). 

Características da extensão

Título: Características da extensão
Fonte: Brasil, 2023a; Brasil, 2022a; Brasil, 2022b; Brasil, 2023b; Brasil, 2023c; Brasil, 2023d; Brasil, 2023e.
Elaboração: Prosa (2025a).

O Conselho Nacional de Educação descreve a extensão como uma “[...] atividade que se integra à matriz curricular e à organização da pesquisa, constituindo-se em processo interdisciplinar, político educacional, cultural, científico, tecnológico” (Brasil, 2018a). Uma vez elaborada, a extensão passa a compor instituições de Ensino Superior, assim como outros setores da sociedade. Não só integra como também transforma esses espaços por meio da produção e aplicação do conhecimento, em profunda dialética com a pesquisa e com o ensino (Brasil, 2018a). 

Na sequência, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), em 2004, estabeleceu como compromisso e responsabilidade social das instituições de Ensino Superior a extensão (Calderón; Pessanha; Soares, 2007).  Além disso, de acordo com a Resolução nº 07/2018, do CNE:

Diretrizes da extensão na educação superior

Título: Diretrizes da extensão na educação superior
Fonte: Prosa (2025b).