Alguns desafios da Docência na EPT
Em síntese, referente à docência na EPT, os professores devem permitir que seus estudantes compreendam – de forma reflexiva e crítica – os mundos do trabalho, dos objetos e dos sistemas tecnológicos dentro dos quais estes evoluem. Constituída na centralidade do trabalho dos professores, a docência na EPT é concebida e implementada de acordo com as demandas da formação profissional dos estudantes, considerando os marcos legais da educação, que estabelecem a estruturação e organização do sistema de ensino e possibilita, assim, a formação profissional e a investigação.
A Docência na EPT se personaliza a partir de movimentos dialéticos integradores dos espaços e tempos para a produção e socialização de conhecimentos, abarcando a ação individual dos professores em sala de aula, acompanhando e orientando os estudantes, realizando atividades de investigação, criação cultural, tarefas de extensão e de divulgação científica e tecnológica e de valorização social do conhecimento, bem como participando da gestão das instituições de ensino. Tudo isso demarcado pelo projeto pedagógico institucional.
Título: Características da formação humana integral presentes na atuação docente da EPT
Fonte: Schüler (2023b; 2023c; 2023d; 2023e); Ministério da Educação (2021).
Elaboração: Prosa (2025c).
Trata-se de um trabalho que pressupõe habilidades complexas, iniciativas e tomadas de decisões que exigem responsabilidade ética, uma vez que o trabalho realizado repercute na vida e no bem-estar das pessoas, demandando um modo particular de ser e estar. Tais exigências requerem dos professores uma formação acadêmica relevante na área em que ensinam, além de conhecimentos pedagógicos sólidos, conhecimentos atualizados e atualização constante, além de experiência profissional prática na área em que estão ensinando, de modo a trazer uma perspectiva mais realista para a sala de aula.
Nesta direção, Libâneo, Oliveira e Toschi (2012) defendem que o professor deve ir em busca do aprimoramento contínuo, por meio do desenvolvimento de saberes que contemplem diversos aspectos relacionados à docência (domínio de conteúdos, acompanhamento de alunos, trabalho com valores etc.), devendo buscar, também, a atuação na organização e gestão escolar (participação efetiva em reuniões e conselhos, cooperação, solidariedade, respeito mútuo, diálogo) e a produção de conhecimento pedagógico (elaboração e desenvolvimento de projetos de investigação).
Considerando mais especificamente a docência na EPT, outras exigências são direcionadas para os professores que nela atuam. Machado (2015, p. 15) destaca que:
Os professores da educação profissional enfrentam novos desafios relacionados às mudanças organizacionais que afetam as relações profissionais, aos efeitos das inovações tecnológicas sobre as atividades de trabalho e culturas profissionais, ao novo papel que os sistemas simbólicos desempenham na estruturação do mundo do trabalho, ao aumento das exigências de qualidade na produção e nos serviços, à exigência de maior atenção à justiça social, às questões éticas e de sustentabilidade ambiental. São novas demandas à construção e reconstrução dos saberes e conhecimentos fundamentais à análise, reflexão e intervenções críticas e criativas na atividade de trabalho.
Oliveira e Silva (2018) chamam a atenção para a necessidade do professor da EPT atentar-se à responsabilidade de sua profissão, visando preparar os estudantes para as adversidades do mundo do trabalho, além de promover uma formação crítica e cidadã. Para isso, deverá inovar frequentemente em suas práticas e aprimorar seus conhecimentos pedagógicos, engajando-se no processo de uma .
No perfil docente da EPT, no contexto atual, grande parte dos professores das áreas de formação profissional são engenheiros, bacharéis ou tecnólogos, sem formação específica no campo educacional. Logo, são dotados de um fazer pedagógico cuja construção ocorre a partir da experiência profissional específica na área, não vinculada aos conhecimentos pedagógicos sistematizados.
Há, para esses professores, a necessidade de, já que sem ela pode dificultar a docência na EPT. Porém, se reconhece que a formação do professor para a EPT deve ocorrer pela vivência no trabalho docente cotidiano e pela reflexão do próprio professor sobre essa prática (Oliveira; Matta, 2017). Como afirma Maria Isabel Cunha (2006, p. 530), “[...] O exercício da docência nunca é estático e permanente; é sempre processo, é mudança, é movimento, é arte; são novas caras, novas experiências, novo contexto, novo tempo, novo lugar, novas informações, novos sentimentos, novas interações”.
Entretanto, na EPT, além dos professores das áreas de formação profissional, atuam também professores licenciados nos componentes curriculares de formação geral. Esses professores, mesmo tendo uma formação inicial voltada para a Docência na Educação Básica, enfrentam desafios quando se trata da Docência na EPT. Em um trabalho produzido por Pasqualli, Viella e Vieira (2023), professores licenciados apontaram alguns obstáculos que vivenciam na EPT, tais como:
- a relação entre teoria e prática;
- a falta de conhecimentos didáticos voltados para a EPT;
- a dificuldade na compreensão da identidade da EPT;
- a ausência de discussão sobre a EPT nos cursos de licenciatura;
- a insuficiente capacitação para atuar na EPT;
- a integração curricular;
- a formação continuada para a EPT insatisfatória;
- a preparação de material direcionado para cada curso;
- a seleção e a apresentação dos conteúdos;
- o aproveitamento dos conhecimentos prévios dos estudantes;
- o conhecimento da realidade do mundo do trabalho;
- o descomprometimento dos estudantes;
- os planos de governos vivenciados;
- o protagonismo discente;
- a educação inclusiva;
- a autonomia dos estudantes;
- o compromisso com a formação que confere uma atribuição profissional;
- a utilização das tecnologias digitais de informação e comunicação;
- a avaliação da aprendizagem.
Ainda, é preciso mencionar que os mesmos professores que atuam na EPT ministram aulas em cursos de bacharelados, licenciaturas e de Pós-Graduação que não fazem parte da EPT, mas são proporcionados pela Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, tornando-se singularidade que exige outros esforços dos professores.
Para finalizarmos este capítulo, é relevante reiterar que a docência na EPT demanda uma atuação pedagógica diferenciada, que requer saberes teóricos e práticos, e esteja alinhada às demandas tecnológicas e profissionais do mundo contemporâneo. Nesta esteira, têm-se os professores que devem formar cidadãos conscientes e capazes de atuar em uma sociedade complexa e em constante transformação.
Para refletir: "que professor da EPT pretendo ser?"
Outros desafios e perspectivas pairam nas reflexões sobre a complexidade e as especificidades da docência na EPT e as singularidades que envolvem o trabalho dos professores na atualidade. Por se tratar de uma análise inacabada, as considerações aqui apresentadas requerem aprofundamento e validação em outras produções bibliográficas, com vistas a recriar o processo de atuação profissional dos professores da EPT.
Dessa forma, sugerimos que realize buscas teóricas de aspectos que problematizem a docência na EPT e, nela, a profissão de professor na atualidade. Sugerimos que os resultados encontrados nessas buscas e a reflexão sobre esses dados, a sua realidade e o professor da EPT que pretende ser sejam registrados em seu Memorial.