Processos históricos da leitura e da escrita
Antes de adjetivarmos os conceitos de alfabetização e de letramento, temos que conhecer ou relembrar seu significado.
Assim, sugerimos a você que faça um exercício de memória e se lembre de sua época de escola, lá no ensino fundamental, quando começou a conhecer as primeiras letras e a formar as primeiras frases.
Como você se sentiu quando aprendeu a escrever seu nome? Quando foi que você leu seu primeiro livro?
Possivelmente, sentimentos bons voltaram com essas lembranças, e isso só foi possível porque você passou pelo processo de alfabetização.
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Título: Processos diversos de alfabetização
Fonte: Prosa (2023).
Elaboração: Prosa (2024).
Quem nos ajuda a entender a alfabetização é. Segundo nos esclarece, “etimologicamente, o termo alfabetização não ultrapassa o significado de ‘levar à aquisição do alfabeto’, ou seja, ensinar o código da língua escrita, ensinar as habilidades de ler e escrever” (Soares, 2021, p. 16, grifo da autora).
O aprendizado da leitura e da escrita abarca também o aprendizado sobre seus aparatos técnicos, especialmente em relação a dois fatores: o espaço de escrita e os mecanismos de produção, reprodução e disseminação da escrita (Soares, 2002; Frade, 2014).
Quanto ao primeiro fator, Soares (2002) explica que todas as formas de escrita são espaciais, isto é, necessitam de um lugar para serem grafadas. Assim, os primeiros espaços de escrita foram pedras ou tábuas de argila ou madeira. Posteriormente, a escrita passou a ser feita em rolos de papiro ou nos pergaminhos e, por fim, nas folhas de papel.
Já em relação ao segundo fator, Soares esclarece que a produção e a reprodução manuscrita dos textos, antes da invenção da imprensa, limitavam sua divulgação. Além disso, havia a possibilidade de os copistas, intencionalmente ou não, alterarem o texto original. A invenção da imprensa, então, propiciou estabilidade, monumentalidade e controle sobre a escrita:
- estabilidade, porque as cópias se tornaram idênticas entre si e comparadas ao original;
- monumentalidade, pois o texto impresso representa e perpetua as ideias de seu autor e do tempo em que foi escrito; e
- controle, uma vez que diversas instâncias passam a atuar na produção e regulação dos textos impressos.
E o que muda na escrita com a cultura digital?
Em primeiro lugar, a escrita na cultura digital envolve não apenas letras, mas sinais gráficos, ícones, cores, imagens fixas e dinâmicas, sonoridades: uma diversidade de sistemas de representação que interferem, concomitantemente, na redação e na leitura em dispositivos digitais (Frade, 2014).
Título: Trajetória dos espaços e mecanismos de escrita
Fonte: Prosa (2024).
Em segundo lugar (e conforme já vimos), o espaço e os mecanismos de produção, reprodução e divulgação da escrita se alteram em virtude de seus suportes técnicos, influenciando o sistema de escrita , seus gêneros e usos e, primordialmente, as relações entre escritores e leitores, escritores e texto e leitores e texto.
Desse modo, a escrita nos papiros e pergaminhos dificultava a retomada de algum ponto do texto que havia ficado para trás. Mas quando a escrita ocupou o espaço do papel, foi possível então criar protocolos, por exemplo, sumários e capítulos, permitindo um controle maior da leitura (Soares, 2002).
Na cultura digital, a tela, que é o aparato técnico para a escrita digital, modifica substancialmente a forma de produzir, apresentar e ler um texto, o qual se converte num hipertexto.
Em termos conceituais, Pierre Lévy explica, em seu texto "Cibercultura", que o hipertexto “é constituído por nós (os elementos de informação, parágrafos, páginas, imagens, sequências musicais etc.) e por links entre esses nós, referências, notas, ponteiros, ‘botões’ indicando a passagem de um nó a outro” (Lévy, 2010, p. 58).
Em comparação ao texto escrito no papel, que é lido sempre de cima para baixo e da esquerda para a direita, o hipertexto é escrito e lido em múltiplas direções, ampliando significativamente os caminhos a serem delineados e percorridos por escritores e leitores em dispositivos digitais (Soares, 2002).
Título: O Hipertexto como um emaranhado de nós digitais
Fonte: Prosa (2024).
Em síntese, o hipertexto possibilita a hiperleitura (Nonato; Sales, 2018).
Neste momento, arriscaria a dizer que, ao conhecer a definição conceitual de hipertexto, você se lembrou de algum momento em que iniciou a leitura de uma notícia sobre cinema, por exemplo, e terminou num site com receitas para cozinhar na airfryer. Não se preocupe, você não está sozinho nessa.

São as inúmeras possibilidades apresentadas em um hipertexto que trazem liberdade para construir a estrutura e o sentido do que foi escrito, reduzindo a distância entre escritores e leitores imposta pelos suportes de texto impresso.
Título: Possibilidades de hiperleitura através do hipertexto
Fonte: Prosa (2023d).
Elaboração: Prosa (2024).
Antes de seguirmos, deixo duas questões para você refletir:
- Você usa a IA para produzir seus textos?
- Para você, a IA traz liberdade na escrita ao possibilitar a organização de ideias iniciais para que sejam discutidas e ampliadas ou limita a criatividade?