capítulo 2
Trabalho, EPT e lutas sociais: trabalho de quem e para quê?

No tópico I do primeiro capítulo, discutimos o conceito ontológico e histórico do trabalho e apontamos a indissociabilidade entre trabalho e educação, fazer e pensar, teoria e prática. Vimos que o trabalho como princípio educativo é elemento fundamental no processo de formação humana, concepção que está em disputa na EPT.
Neste segundo capítulo, continuaremos este caminho em construção e analisaremos de forma contextualizada como o trabalho se concretiza na EPT considerando os seus sujeitos, a diversidade, as lutas, as reivindicações e os direitos, abordando as implicações relativas ao gênero, à geração, às necessidades específicas, às etnias, às comunidades tradicionais e aos migrantes. Para isso, é preciso compreender o mundo do trabalho na atualidade.
O mundo do trabalho
O mundo do trabalho se transformou e uma nova forma de acumulação do capital, com um modelo de produção flexível, instalou-se. Com isso, a formação do trabalhador passou a ser orientada por novas pedagogias e novas intencionalidades, visando conformá-lo às relações de produção, capitalistas na sua essência e conteúdo, mas diferentes em aspectos de forma.
Como apontou o sociólogo no texto "O mundo do trabalho", o modelo de acumulação flexível se apoia na flexibilização de padrões de consumo, dos mercados de trabalho e, principalmente, dos processos de trabalho (1994). Segundo ele, algumas das principais características do mundo do trabalho orientado pela acumulação flexível do capital são:
Título: Características do mundo do trabalho orientado pela acumulação flexível do capital
Fonte: Prosa (2024b).
Ainda, de forma sintética, Otávio Ianni explica como se caracteriza o mundo do trabalho e a classe trabalhadora hoje, na seguinte formulação:
Ainda que incipiente, esse mundo do trabalho e o consequente movimento operário apresentam características mundiais: são desiguais, dispersos pelo mundo, atravessando nações e nacionalidades, implicando diversidades e desigualdades sociais, econômicas, políticas, religiosas, culturais, linguísticas, raciais e outras. Inclusive, apresentam as peculiaridades de cada lugar, país ou região, de acordo com as características históricas, geográficas e outras. Entretanto, há relações, processos e estruturas de alcance global que constituem o mundo do trabalho e estabelecem as condições do movimento operário.
No atual modelo de acumulação do capital, os processos formativos de trabalhadores se estabelecem por meio de práticas pedagógicas e de gestão orientadas pelo mercado, organizadas com base nas pedagogias do capital. Essas práticas pedagógicas, próprias da pedagogia do capital, são aquelas organizadas a partir das noções de “saber, saber fazer e saber ser”, que orientam a aprendizagens significativas por si mesmas, sem contextualização com a realidade objetiva. Tem-se, por finalidade, fazer com que o trabalhador adquira competências, habilidades e valores considerados úteis ao seu ajuste a um mundo do trabalho movido pelas instabilidades, incertezas e inseguranças.
Para você compreender melhor o mundo do trabalho hoje, assista ao filme de Ken Loach, Você não estava aqui, disponível em plataformas de streaming, ou o filme do mesmo diretor Eu, Daniel Blake, também disponível em plataformas de streaming.

Título: Cartazes dos filmes “Você não estava aqui” e “Eu, Daniel Blake”
Fonte: Entertainment One (2016; 2019)
Elaboração: Prosa (2024).