Reflexões e inspirações
As questões trazidas nesse capítulo também são abordadas no documentário Nunca me sonharam (2017), dirigido por Cacau Rhoden e produzido pela Maria de Farinha Filmes. Analisado por professores e especialistas, a obra evidencia a ineficiência da sociedade e das redes de ensino em sonhar junto com os estudantes um sonho possível.
Recomendamos este documentário pois, enquanto educadores e instituições formadoras, precisamos conhecer os sonhos e projetos dos educandos, sonhar juntos, esperançar juntos e conquistar juntos uma sociedade mais justa. Esse sonhar coletivamente implica articular-se, organizar-se e lutar pelos sonhos e direitos dos estudantes, expressos e garantidos na Constituição Federal e nos Estatutos das Crianças e Adolescentes (ECA) e da Juventude.
Uma educação participativa, democrática, autônoma, libertária e emancipatória deve resgatar e valorizar os direitos e a dignidade dos estudantes. Para isso, é fundamental envolver todos os educadores e convocar toda a sociedade, o poder público, as comunidades e as famílias para sonhar junto: sonhos possíveis, com políticas públicas de apoio e a proteção de todos os estudantes.
Título: Sonhar e esperançar na EPT
Fonte: Gescom (2024b)
A educação, por si só, não tem o poder de construir uma sociedade emancipada. A exclusão social, a globalização econômica e as políticas neoliberais excludentes, em curso tanto em nível nacional quanto mundial, contribuem para isso, pois, segundo Jaime Zitkoski (2007, p. 246), o capitalismo “amplia a sua capacidade de produção de mercadorias, acúmulo de capital e geração de riquezas”.
Nesse sentido, o trabalho de formação da educação participativa e popular deve também exercitar os processos de emancipação individual e coletiva, estimulando e possibilitando a intervenção no mundo, a partir de um sonho ético-político da superação da realidade desigual e injusta. Segundo Freire (2000), a luta pela transformação social, para aqueles que se posicionam como progressistas, pode acontecer em diferentes lugares e momentos:
Tanto se verifica em casa, nas relações pais, mães, filhos, filhas, quanto na escola [...] ou nas relações de trabalho. O fundamental, se sou coerentemente progressista, é testemunhar [...] o meu respeito à dignidade do outro ou da outra
O projeto de emancipação defendido por Paulo Freire também contempla o chamado multiculturalismo, no qual o direito de ser diferente em uma sociedade dita democrática, enquanto uma liberdade conquistada de cada cultura, deve, ainda, proporcionar um diálogo crítico entre as diversas culturas com o objetivo de ampliar e consolidar os processos de emancipação.
Em um país com profundas desigualdades educacionais, econômicas, sociais, de classe e gênero, onde 86% dos adolescentes e jovens estudam em escolas públicas, a educação é uma das ferramentas fundamentais para a tomada de consciência. O ato educativo – que é um ato político – deve constituir-se de diálogos entre educador e educando. A educação emancipatória e a pedagogia da autonomia requerem o desenvolvimento de uma consciência crítica que faça o educando ultrapassar o nível de consciência real para alcançar a conscientização social e política.
Título: Valorizar as culturas para a emancipação
Fonte: Gescom (2024c)
A educação emancipatória do ser humano não pode vê-lo como um ser vazio a ser preenchido com conteúdo e informações, mas sim como um ser social permeado de múltiplas relações. A emancipação nada mais é do que o processo de libertação política, cultural, humana e social de todos os oprimidos, que libertam a si mesmos e aos opressores. O ser humano construirá uma identidade emancipadora, passando por um processo gradativo de transformação dele mesmo e do mundo no qual está inserido, considerando a individualidade e subjetividade de cada um no mundo.