Abandono ou evasão?
No cotidiano, ouvimos constantemente uma diversidade de termos para representar este fenômeno, tais como abandono, evasão, exclusão e/ou impermanência.
Nos dados apresentados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), os conceitos de 'abandono escolar' e 'evasão escolar' têm significados diferentes. O abandono representa o estudante que deixou a escola ao longo do ano, e a evasão significa que o aluno saiu da escola e não voltou mais para o sistema no ano seguinte.
No Documento Orientador para a Superação da Evasão e Retenção na Rede Federal, organizado pelo Ministério da Educação (MEC) e pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), o termo 'evasão' é definido como “a interrupção do aluno no ciclo do curso. Em tal situação, o estudante pode ter abandonado o curso, não ter realizado a renovação da matrícula ou formalizado o desligamento/desistência do curso” (Brasil, 2014, p. 20). Ainda sobre o termo, no campo das pesquisas e estudos realizados sobre a temática, Rosemary Dore e Ana Lüscher (2011) tratam em suas pesquisas os termos abandono e evasão como sinônimos. Outros pesquisadores, como Monica Silva, Lucas Pelissari e Allan Steimbach (2013), Patrícia Moraes (2023) e Alexsandra Zanin e Nilson Garcia (2023) utilizam em seus estudos a defesa do uso do conceito 'abandono escolar', argumentando que este termo compreende a relação estabelecida entre os diversos fatores que envolvem o estudante e a escola, decorrentes de processos sociais, econômicos e culturais, visto que o estudante pode abandonar ou ser abandonado. Esse debate não trata apenas de terminologia, mas ocorre porque os termos carregam em si diversos sentidos e significados.
Observe, por exemplo, que ao dizer “Samuel evadiu do curso técnico”, pode-se transferir ao sujeito o motivo de sua desistência, individualizando e culpabilizando o sujeito pelo processo. Entretanto, ao falar “Samuel abandonou” ou “foi abandonado ao longo de seu curso técnico”, há diversos fatores que podem ter contribuído para a ocorrência do fenômeno.
Diante disso, e em busca de romper com a individualização e culpabilização dos sujeitos, corroboramos com Alexsandra Zanin e Nilson Garcia (2021) e entendemos, neste curso, o abandono escolar como um que envolve questões pessoais, sociais, econômicas, políticas e culturais, externas e internas à escola, relacionadas dialeticamente entre si, sem sobreposição de importância de um fator sobre o outro, são mutuamente relacionados.
Rosemary Dore e Ana Zuleima Lüscher (2011) também caracterizam o abandono enquanto um processo complexo, dinâmico e cumulativo, que envolve um vasto conjunto de circunstâncias individuais, institucionais e sociais. Para as autoras, “a saída do estudante da escola é apenas o estágio final desse processo” (p. 777). Nesta defesa, Rosemary Dore, Paula Sales e Tatiana Castro (2014) apontam a necessidade de olhar para o fenômeno como algo
atrelado a fatores pessoais, sociais e institucionais, que podem resultar na saída provisória do aluno da escola ou na sua saída definitiva do sistema de ensino. Esse problema deve ser analisado por perspectivas diversas, tais como a perspectiva da escola, do sistema de ensino e do indivíduo
Para saber mais: sobre EPT e evasão escolar
Sugerimos a leitura da obra Educação profissional e evasão escolar: contextos e perspectivas, organizada pelas pesquisadoras Rosemary Dore, Paula Elizabeth Nogueira Sales e Carlos Eduardo Guerra Silva (2017), para que você consiga aprofundar ainda mais seus estudos sobre esta temática.
Considerando o apontamento de Dore, Sales e Castro (2014), continuaremos construindo nossa concepção sobre o abandono escolar.