Estratégias de acolhimento: vínculo e pertencimento
Dentre as ações possíveis, vamos refletir sobre estratégias de acolhimento dos estudantes, visto que é uma ação que possibilita a formação de vínculos e sentimento de pertencimento à instituição.
Gabriel Pereira et al. (2021), a partir do relato da experiência exitosa com o projeto Programa Pertencer, realizado com estudantes de Cursos Técnicos Integrados de Nível Médio, no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), campus Osório, apontam que o acolhimento, a escuta e a integração contribuem para fortalecer a permanência estudantil. De forma sintética, o projetofaz parte de uma das ações do Programa Pertencer.
Segundo os autores, este projeto possibilita uma extensão ao que seria uma recepção de estudantes, mas não se limita às ações pontuais de início de ano letivo. Essa ação tem por intenção colocar os estudantes ingressantes na instituição em diálogo com os servidores que atuam na Assistência Estudantil e com os estudantes veteranos de seus cursos. A partir de um movimento denominado pelos proponentes de “apadrinhamento”, cada turma ingressante recebe uma turma de terceiro ano, do mesmo turno, como anfitriã. A partir dessa interação, são realizados “cafés de integração, diálogos sobre projetos de ensino, pesquisa e extensão, compartilhamentos de experiências e, principalmente, o vínculo entre padrinhos e apadrinhados, referências no contato e nas trocas durante toda a caminhada formativa” (Pereira et al, 2021, p. 458).
Título: Ações de acolhimento para a permanência escolar.
Fonte: Schüller (2023); Gescom (2024).
Elaboração: Prosa (2025d).
Os autores consideram que as ações de acolhimento são uma importante estratégia para a permanência escolar, mas destacam que essas devem estar presentes no cotidiano das equipes e dos estudantes (Pereira et al., 2021). O acolhimento contribui para o bem-estar físico e emocional, conforme foi possível perceber na experiência realizada por servidores do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), campus Bento Gonçalves, referente às ações voltadas à promoção do bem-estar dos estudantes. Josiani Pasini et al. (2021, p. 533) enfatizam que:
Compreender que o bem-estar de um estudante em uma instituição de ensino também acontece através do acolhimento e do pertencimento é fundamental para a sua permanência e para o êxito na sua formação. Proporcionar ações institucionais em qualquer âmbito que reforcem essas sensações pode ser um diferencial na formação integral dos estudantes.
O sentimento de pertencimento contribui para a criação de vínculo vivenciado a partir das experiências exitosas construídas com outros sujeitos da comunidade escolar. Jupter Abreu Júnior (2022) destaca, em seus estudos realizados com estudantes da Educação de Jovens e Adultos integrada à Educação Profissional Técnica (EJA/EPT), que o sentimento de pertencimento também pode estar atrelado ao reconhecimento do papel social da instituição. Veja algumas falas dos estudantes abaixo:
Estudante da EJA/EPT 1 - Muita gente [achou] interessante eu ter voltado a estudar e ter voltado no IF, por ser uma escola federal de muito gabarito! As pessoas quando souberam que eu tinha terminado o 2º grau lá, as pessoas ficavam assim..., maravilhadas! Por eu ter feito o 2º grau lá, e até hoje, quando sabem que eu fiz lá, eles falam: tu estudou no IF? Pô, cara, que escola boa, é uma escola federal!
Estudante da EJA/EPT 2 - Ah..., sinto que, por ser uma instituição de renome, o diploma é bem aceito no mercado [de] trabalho, eu tenho orgulho de estudar aqui! As pessoas que estudam no IF hoje, costumo dizer que são privilegiadas! É uma ótima escola, que te dá uma formação muito boa! Te dá uma profissão também! É uma escola de referência no Rio de Janeiro!
Esses relatos evidenciam o orgulho de fazer parte de uma instituição de qualidade, que possibilita uma transformação social. Entretanto, nem sempre o slogan de instituição "forte e de qualidade" está a serviço do sentimento de pertencimento e mudança social, podendo ser percebido como justificativas para a exclusão e fracasso escolar, presente em discursos excludentes e meritocráticos que enfatizam que só estudantes "bons" conseguem permanecer (Zanin e Garcia, 2023).
Diante do que foi apresentado, fica o convite para reflexão: qual a função social da EPT, a quem está servindo e que modelo de sociedade está representando?