Refletindo sobre alguns destes motivadores: a condição dos trabalhadores estudantes

Outro elemento importante neste estudo são os desafios encontrados pelos trabalhadores estudantes para concluir suas formações. Isto porque as questões que envolvem o mundo do trabalho são fatores de destaque ao pensarmos sobre motivadores do abandono e da permanência escolar.

Conforme pondera Patrícia Moraes (2023), ao tratar do público adulto na EPT, é importante considerar o adjetivo “trabalhador” na caracterização desses estudantes. Isso porque são trabalhadores que estudam, que têm uma identidade própria e um patrimônio singular de experiências e saberes estabelecidos por sua relação com o mundo do trabalho. Estes sujeitos se desdobram entre duas atividades (às vezes até mais, quando considerado o trabalho doméstico) igualmente demandantes. Entretanto, sua trajetória escolar não depende exclusivamente deles próprios, pois é permeada pelas possibilidades encontradas nas esferas do trabalho e da família, pelas negociações que podem ser estabelecidas entre essas esferas, e, além disso, acontece no contexto emaranhado das articulações entre produção e reprodução social.

card do curso

Título: A trajetória escolar do estudante trabalhador
Fonte: Prosa (2021b).
Elaboração: Prosa (2025i).

A condição enquanto trabalhador é primária, pois se for preciso escolher entre trabalhar ou dedicar-se apenas aos estudos, o trabalho terá centralidade nesta escolha, visto que é o fator que garante sua subsistência. Neste sentido, para auxiliar na permanência dos trabalhadores estudantes, é importante conhecer quem eles são e de que trabalho vêm esses estudantes, observando que, conforme destaca Moraes (2023), sua condição de vida, marcada pelo trabalho remunerado, estudo e, em muitos casos, responsabilidades familiares, é permeada pelas condições enquanto estudante. Assim, poderá haver dificuldades de esses sujeitos participarem de algumas ações que possam contribuir para a permanência, como as atividades extraclasses, dado o reduzido tempo disponível para participar de ações extracurriculares. 

Diversas pesquisas, tais como de Rosemary Dore, Paula Sales e Tatiana Castro (2014), Rosangela Fritsch (2017), Patrícia Moraes (2023), Alexsandra Zanin e Nilson Garcia (2020; 2023) entre outras, têm apresentado que as dificuldades em conciliar trabalho, estudo e família são um fator determinante do abandono escolar. Essas pesquisas têm apontado, também, a dificuldade das instituições em oferecer condições e organizar práticas educativas que atendam às realidades dos trabalhadores estudantes e que fortaleçam a permanência e a conclusão de seus cursos.

Conforme destaca Gaudêncio Frigotto (2018), há uma ausência histórica de um projeto de Educação Profissional e Tecnológica que atenda as reais necessidades dos trabalhadores e que esteja voltado para prepará-los para o trabalho complexo, garantindo e assegurando seu direito social e subjetivo. Para atender a esses sujeitos, além de ponderar suas condições de vida e experiências no mundo do trabalho, Nilson Garcia e Domingos Lima Filho (2004) defendem uma educação que considere o trabalho enquanto um princípio educativo, dada a possibilidade de uma educação emancipadora humana, que permita a apropriação e a construção de saberes e conhecimentos, de ciência e cultura, de técnicas e tecnologia.