Refletindo sobre alguns destes motivadores: as dificuldades no processo de ensino e aprendizagem

Nas pesquisas apresentadas anteriormente, tanto com estudantes adolescentes quanto com adultos, um dos motivadores de abandono dos estudantes é a dificuldade de aprendizagem. O fracasso escolar tem se apresentado como um elemento que contribui para a escolha de abandonar a escola em diversos níveis e modalidades da educação. Nos estudos da área de EPT, em certos momentos, esse motivador se apresenta como um fator “externo” à EPT, decorrente de uma Educação Básica deficitária; em outros, como um fator “individual”, voltando-se para uma culpabilização do estudante pelas lacunas e carências de seu percurso formativo e por questões cognitivas.

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Título: O não pertencimento
Fonte: Prosa (2021a).

Na busca por romper com a culpabilização e individualização, deve-se realizar uma análise na totalidade dialética, a fim de compreender que o insucesso escolar representa um modelo de sociedade liberal excludente, presente em um sistema de educação desvalorizado, que não possui políticas públicas comprometidas com uma educação pública e de qualidade para grande parcela da sociedade brasileira.

A desvalorização do sistema educacional reforça uma dualidade estrutural, na qual o ensino para a população com maior vulnerabilidade socioeconômica apresenta inúmeros problemas, como a falta de investimento, a desvalorização dos trabalhadores da educação, as estruturas físicas deficientes, as salas de aula lotadas, entre outras questões (Zanin e Garcia, 2023).

Para superar essa situação e as ausências que possam ser justificativas para a culpabilização dos alunos e os conduzam às dificuldades escolares e, enquanto não se supera a crônica falta de investimentos e estrutura, tornam-se necessárias ações que propiciem a permanência dos alunos nas escolas. Nesse sentido, os resultados dos estudos de Rosemary Dore, Paula Sales e Tatiana Castro (2014) sobre os fatores que fortalecem a permanência escolar apontam para a importância de práticas educativas voltadas ao apoio acadêmico para os estudantes, tais como ações de monitoria, aulas extras e apoio psicopedagógico.

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Título: Ações para permanência na EPT
Fonte: Gescom (2024d); (2024e); (2024f); (2024g); (2024h); (2024i); (2024j); (2024k); (2024l); (2024m); (2024n); (2024o).
Elaboração: Prosa (2025h).

Da mesma forma, as autoras anunciam a necessidade de reflexão e de aprimoramento das práticas curriculares e pedagógicas. Destacam, ainda, que a superação das dificuldades de aprendizagem não é tarefa exclusiva dos docentes ou da instituição de ensino, exigindo, também, políticas educacionais integradas, assistência estudantil e acompanhamento pedagógico.

É importante refletir que, a partir do momento em que um estudante ingressa na EPT, suas dificuldades não são apenas fatores externos ou individuais do sujeito: precisam ser refletidas a partir de um compromisso institucional, buscando fomentar estratégias para que os estudantes possam superar esses entraves e concluir seus estudos. Por isso, é necessário o olhar atento e cuidadoso para elementos que envolvem o trabalho docente, a metodologia e a didática, a proposta pedagógica e a relação professor-aluno, compreendendo-os como elementos que contribuem com a criação de contextos favoráveis à permanência e à conclusão dos cursos.

Estudos realizados por diversos autores, como Alexsandra Zanin (2019) e Nilson Garcia (2020), Patrícia Moraes (2023), Gislaine Sousa (2023), entre outros, remetem à garantia de adequadas condições de trabalho e à urgência de políticas e ações voltadas para a formação inicial e continuada dos trabalhadores da EPT, entendendo os espaços formativos enquanto um compromisso político e institucional emergente para o fortalecimento da permanência estudantil.