CAPÍTULO 4

Sujeitos da Gestão em EPT

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Considerar o homem como fim implica tê-lo como sujeito e não como objeto no processo em que se busca a realização dos objetivos.

(Vitor Henrique Paro, Administração escolar)

Na gestão educacional da Educação Profissional e Tecnológica (EPT), o mais importante são as pessoas, por isso é primordial engajar todos os profissionais no desenvolvimento da instituição. Quando as pessoas se sentem parte, comprometem-se mais, entendem sua função e assumem o processo coletivamente. Eis aqui um grande desafio: fazer com que todos se engajem como sujeitos e não como meros executores ou espectadores. Em outras palavras, o desafio consiste em construir o que Cláudia Amaral (2016, p. 110) chama de “pertença profissional”, que deve ser elaborado “nas relações sociais estabelecidas com os diferentes sujeitos no trabalho” por parte não só dos professores, como destaca a autora, mas por todos os sujeitos da comunidade educativa. A autora afirma também que a pertença profissional se processa socialmente tendo como centralidade a dimensão coletiva do trabalho dos servidores, considerando o contexto sócio-histórico configurador, a formação inicial, a trajetória profissional individual ou de grupo e a autonomia como aspectos influenciadores (Amaral, 2016).

Convém lembrarmos aqui a condição humana dos gestores e a questão de inacabamento dos sujeitos, aspectos que tornam o processo de  aprender e de desenvolver-se como gestor uma aprendizagem contínua. Paulo Freire, no capítulo 3 do livro Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa (1996), intitulado "Ensinar é uma especificidade humana", destaca nove exigências do ensinar. Na introdução deste capítulo, o pedagogo enfatiza que uma das qualidades essenciais que o docente democrático deve revelar em suas relações com as liberdades dos estudantes é a segurança de si mesmo, que se manifesta na firmeza do seu trabalho, nas decisões, no respeito às liberdades e na capacidade de discutir suas próprias posições e de rever suas ações. Na mesma obra, Freire também apresenta a consciência do inacabamento dos sujeitos e afirma que o inacabamento do ser humano, ou sua inconclusão, é próprio da vida: "onde há vida, há inacabamento. Mas só entre mulheres e homens o inacabamento se tornou consciente" (Freire, 1996, p. 55). Essas perspectivas em relação à condição humana refletem a essência da gestão educacional, que não se limita a funções administrativas, mas abrange a articulação dinâmica do conjunto de trabalhos como prática social que ocorrem na instituição.

Nesse contexto, segundo Heloísa Lück (2014), a gestão passa a ser o enfoque orientador da ação organizadora e orientadora do ensino, tanto em âmbito macro (sistema) como micro (escola) e na interação de ambos os âmbitos. Ainda, é necessário entender a ação de cada profissional como trabalho e compreender os profissionais como trabalhadores a serviço da educação.

Assim, este capítulo tem como objetivo conhecer e compreender as atribuições dos profissionais que exercem funções de gestão nas instituições educativas, por meio do estudo das atribuições dos coordenadores pedagógicos das escolas. Para isso, iremos refletir sobre o desafio de engajar a todos na política de EPT, valorizando os diferentes saberes dos profissionais. 

As realidades das instituições da EPT mobilizam diferentes profissionais, além de professores de diferentes áreas. São eles: servidores de ensino (pedagogos, técnicos em assuntos educacionais, educadores especiais, assistentes de alunos, técnicos de laboratórios) e servidores da saúde (psicólogos, médicos, assistentes sociais, enfermeiros, dentistas, técnicos em enfermagem, entre outros). O que cria um elo entre essas diferentes áreas é a busca pela formação integral e pela educação dos estudantes. Nas palavras de Paro (2008, p. 128), 

 

Sendo o homem um ser que se autocria pelo trabalho, nessa sua autocriação produz o supérfluo – ou seja aquilo que transcende a necessidade natural e se apresenta como desejável pelo homem em sua postura ética de não indiferença com relação ao mundo em que se encontra. Essa produção do supérfluo é que lhe imprime sua dimensão histórica, possibilitando a criação e acumulação da cultura e a transformação e enriquecimento constantes do mundo em que vive. É pela educação que cada indivíduo apropria-se da cultura, criada historicamente, e adquire condições de desfrutar daquilo que a história produziu.

 

O gestor educacional da EPT mobiliza e valoriza as diferentes formações e saberes na formação humana e profissional dos estudantes, assim como também trabalha no desenvolvimento de espaços que potencializam a democratização da educação. Assim, a instituição estimula o respeito aos diferentes saberes e promove a busca contínua por melhoria e qualidade do ensino e por acesso, permanência e inclusão. Mas como isso é possível?

Não existem receitas nem mesmo regras gerais, mas pressupostos que passam pela valorização de diferentes saberes, pela participação e pelo desejo de vivenciar e experienciar relações saudáveis, humanizadoras e democráticas em todo o contexto da instituição. Exemplos que podem guiar os gestores na trilha da gestão educacional da EPT a partir dos assuntos discutidos neste capítulo podem consistir em reunir os servidores e estudantes e mapear o que mais preocupa a comunidade; refletir e propor ações conjuntas para minimizar os problemas, como projetos de ensino, de pesquisa ou de inovação, com a maior participação possível dos diferentes segmentos da comunidade; e planejar espaços de avaliação de tais ações, lembrando que ensinar exige disponibilidade para o diálogo e que

é no respeito às diferenças entre mim e eles ou elas, na coerência entre o que faço e o que digo, que me encontro com eles ou elas 

(Freire, 1996, p. 152).

Vale considerar que estes pressupostos precisam ser construídos e seguidos no cotidiano escolar, não como utopias, mas como possibilidades de serem viabilizados; considerar que criar estes espaços junto aos estudantes é proporcionar uma experiência democrática e ensinar que, na coletividade, é possível crescer e desenvolver-se juntos. 

Muitas vezes, os profissionais que passam a trabalhar na EPT não têm o conhecimento sobre a modalidade, assim como não conhecem as singularidades de sua área em conexão com a Educação Profissional. Por isso, sempre é necessário ter descrito as especificidades do cargo e as expectativas da instituição ao receber o profissional.

Paro (2008), ao ressaltar a importância da qualidade do ensino, destaca a necessidade da educação ser gerida como mediação para a formação do homem histórico, e esse processo envolve relações humanas em que a condição de sujeitos precisa ser permanentemente afirmada, uma vez que isso os caracteriza como sujeitos históricos. Assim, a relação pedagógica supõe a postura ética dos sujeitos nela envolvidos: “tanto quem educa quanto quem é educado precisa querer fazê-lo para que a relação se efetive como genuinamente pedagógica” (Paro, 2008, p. 130).

Título: Engajamento profissional dos sujeitos na EPT Fonte: Prosa (2025).

Título: Engajamento profissional, aprendizagem e trabalho coletivo dos sujeitos na EPT
Fonte: Prosa (2025b).

Por isso, a estrutura e a organização das instituições devem assumir sempre uma forma democrática, favorecendo a vontade e a participação dos sujeitos envolvidos no processo pedagógico. No entanto, quando não há conhecimento do profissional em relação à sua ação na EPT ou clareza da instituição no que se quer com o servidor, é preciso promover essas reflexões, buscando a qualidade do ensino e do trabalho do servidor.