Ainda temos um terceiro relato de docência na EPT a ser compartilhada, a qual está relacionada à
verticalização como estratégia para democratizar o acesso à EPT, de modo a garantir uma formação integral e responder às necessidades do mundo do trabalho e da sociedade. Trata-se do oferecimento de diferentes níveis de ensino por uma mesma instituição, promovendo uma continuidade educacional dentro de um mesmo ambiente. No contexto da EPT, isso significa que uma instituição (como os IFs) pode oferecer desde cursos técnicos de nível médio até cursos de graduação e pós-graduação. Nas palavras de Pacheco (2011, p. 24-25):

A verticalização, por seu turno, extrapola a simples oferta simultânea de cursos em diferentes níveis sem a preocupação de organizar os conteúdos curriculares de forma a permitir um diálogo rico e diverso entre as formações. Como princípio de organização dos componentes curriculares, a verticalização implica o reconhecimento de fluxos que permitam a construção de itinerários de formação entre os diferentes cursos da educação profissional e tecnológica: qualificação profissional, técnico, graduação e pós-graduação tecnológica.

O Art. 6º da Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, que instituiu a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT) e criou os IFs, destaca que uma de suas finalidades é fomentar a articulação e a continuidade entre a Educação Básica, a Educação Profissional e a Educação Superior, aproveitando a infraestrutura disponível, os profissionais que atuam e os mecanismos de gestão. Consiste, então, em uma abordagem que se encontra em permanente processo de construção.

Essa abordagem é vivenciada por inúmeras instituições de EPT no Brasil, como no campus Sertão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), cujo exemplo trabalharemos aqui. Oriundo de uma escola agrotécnica, este campus atualmente oferece o curso Técnico em Agropecuária nas formas integrada e subsequente ao Ensino Médio. Ao concluírem esses cursos  , os egressos têm à disposição os cursos de Graduação em Agronomia, Zootecnia, Agronegócio, Ciências Biológicas e Gestão Ambiental para prosseguirem seus estudos e, ao finalizarem um desses cursos, poderão especializar-se em cursos de Pós-Graduação, tais como Sistemas de Produção Vegetal e Desenvolvimento e Inovação. Para aqueles que pretendem atuar como professores da EPT, o campus oferece o curso de Formação Pedagógica para graduados sem licenciatura.

card do curso

Título: IFRS Campus Sertão
Fonte:
Schiedeck e Vianna (2014).
Elaboração: 
Prosa (2025c).

Se forem considerados os demais campi do IFRS, os egressos do curso Técnico em Agropecuária poderão frequentar outros cursos de Graduação e se especializarem em outros cursos de Pós-Graduação lato sensu e stricto sensu voltados para a área de recursos naturais. E, ainda, se forem considerados outros IFs da RFEPCT, o leque de oportunidade se amplia consideravelmente. 

Para Silva et al. (2020), os IFs não se caracterizam como escolas técnicas nem como universidades: sua singularidade institucional visa promover a integração da educação, fortalecendo a verticalização dos diferentes níveis e etapas de ensino. Eles buscam desenvolver o tripé ensino-pesquisa-extensão.

Diante da complexidade da estratégia de verticalização da EPT estão os professores que desenvolvem atividades de ensino, pesquisa e extensão voltadas para a sua área de formação acadêmica. Helmer e Reyes (2015) destacam que os professores da EPT devem possuir um vasto repertório de conhecimentos que lhes possibilite atuar em diferentes níveis de ensino com facilidade. Isso se deve ao fato de que, devido à verticalização do ensino característica dos IFs, eles precisam lecionar desde a Educação Básica até a Educação Profissional, além de Graduação e Pós-Graduação. Já Machado (2008) indica que o professor da EPT deve ser, antes de tudo, um sujeito reflexivo e pesquisador, disposto ao trabalho colaborativo e à ação crítica e cooperativa. Deve ter uma compreensão aprofundada do mundo do trabalho e das redes de relações que envolvem as diferentes modalidades, níveis e instâncias educacionais.

Os professores que atuam nos IFs encontram um contexto de ensino diversificado, uma vez que, no mesmo espaço educativo, estudantes do Ensino Médio convivem com os de cursos superiores, permitindo uma atuação conjunta nas áreas de pesquisa e extensão. Isso possibilita a ampliação das ações educativas em diferentes contextos e trajetórias formativas, promovendo o envolvimento participativo entre a Educação Básica e Ensino Superior. Como já dito, os professores atuam simultaneamente no ensino, pesquisa e extensão em níveis e modalidades diversas, com públicos distintos, e por isso é necessária uma formação didático-pedagógica para lidar com essas demandas, exigindo uma prática educativa polivalente e flexível.

Os impactos da verticalização no trabalho dos professores afetam diretamente o processo educativo, gerando tensões e exigências sobre suas atividades, além de apresentar desafios relacionados às múltiplas atribuições e responsabilidades nas diversas dimensões institucionais e na organização do trabalho pedagógico (Silva et al., 2020). Nesta direção, os professores precisam aplicar métodos, ajustar conteúdos, linguagens, procedimentos e planejamentos para um público heterogêneo, abrangendo simultaneamente vários níveis, etapas, modalidades e formas de ensino. A adequação de conteúdos e linguagens é uma tarefa complexa, o que torna a verticalização um grande desafio.