A Docência na EPT
A preocupação com a Docência na EPT abrange tanto os desafios históricos quanto as novas exigências decorrentes das rápidas mudanças tecnológicas e sociais que vivenciamos no mundo contemporâneo. Neste contexto, com transformações ocorrendo de forma cada vez mais acelerada, as instituições de ensino e os professores da EPT enfrentam desafios que se intensificam gradativamente, principalmente na docência.
Para Silva et al. (2021), a docência é uma profissão singular, na qual o aprendizado prático vai além do estágio de observação realizado durante a graduação. Esse aprendizado tem início muito antes da formação inicial como professor e de sua interação direta com os estudantes em sala de aula. Ao ingressar na carreira docente, o sujeito já carrega consigo um conjunto de conhecimentos relacionados à prática docente e incorpora modelos que podem ser reproduzidos e/ou evitados.
Nesse sentido, os relatos sobre a docência também permitem analisar como esses saberes se constroem ao longo do tempo. Consideradas como histórias, reflexões e experiências que ajudam a compreender as vivências dos professores em seu contexto de trabalho, as narrativas sobre a docência podem abordar tanto os desafios quanto as conquistas, revelando a complexidade do ato de ensinar e o papel transformador da educação. Desse modo, ao compartilharmos reflexões e vivências relacionadas ao trabalho pedagógico realizado na EPT, buscamos contribuir com a valorização da docência e inspirar tanto professores em atuação quanto os que estão iniciando na profissão, além de promover uma reflexão sobre o papel da EPT em diferentes contextos.
Nesse cenário, diferentes vivências e abordagens pedagógicas podem ser trazidas como exemplos para contribuir com o fortalecimento da prática pedagógica e da formação escolar e humana. O primeiro relato sobre a Docência na EPT que traremos aqui gira em torno da Pedagogia da Alternância , que é uma metodologia voltada para a educação do campo, amplamente utilizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pelas Casas Familiares Rurais em seus processos educativos. No caso específico do, situado no município de Pontão, no Rio Grande do Sul, esse referencial teórico-metodológico tem sido utilizado para desenvolver um processo ensino-aprendizagem alinhado às vivências concretas dos estudantes do campo que cursam o Técnico em Agropecuária. Nessa experiência, o ponto de partida é a realidade dos estudantes, visando a construção de uma educação que reflita de forma consistente o contexto em que estão inseridos (Nascimento, 2003).
Essa metodologia organiza o processo de ensino-aprendizagem em dois momentos principais ao longo do curso: o Tempo Escola (TE), que corresponde a 70% da carga horária e é realizado nos centros de formação, e o Tempo Comunidade (TC), que representa os 30% restantes e acontece no contexto comunitário dos estudantes. Dessa forma, a Pedagogia da Alternância promove uma integração dinâmica entre teoria e prática, valorizando o cotidiano e a cultura dos educandos como elementos centrais do processo educativo (Camacho, 2024).
Título: Aula prática
Fonte: Ministério da Educação (2023a).
Elaboração: Prosa (2025b).
Na Pedagogia da Alternância, o professor deve atuar de forma ativa no acompanhamento e na contribuição para a construção da autonomia do estudante, proporcionando os meios necessários para que ele se desenvolva como um sujeito consciente de seus direitos e deveres. Conforme Gimonet (2017), o professor deve estar presente no dia a dia dos alternantes, tanto nas atividades realizadas em sala de aula quanto no desenvolvimento de tarefas relacionadas à organização da instituição de ensino. Além disso, também é dever do professor colaborar com as atividades de articulação da instituição de ensino com a família e a comunidade, contribuir com a formação integral dos estudantes, integrar-se à vida da comunidade escolar e colaborar nas atividades de orientação dos estudantes, como prevê o Regimento das Casas Familiares Rurais do Maranhão filiadas à Associação Regional das Casas Associação das Casas Familiares Rurais do Norte e Nordeste do Brasil (2012).
Como podemos ver, o professor não é visto como o único detentor do conhecimento, mas como alguém que acompanha, orienta e guia os estudantes em direção às fontes de informação: sua função envolve apoiar a construção do conhecimento, facilitar os processos de aprendizagem e intervir com ensino sempre que necessário (Aued; Vendramini, 2009).
Outra narrativa sobre docência na EPT, que merece ser compartilhada aqui, diz respeito ao trabalho pedagógico da EPT experienciado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha (IFFar), mais especificamente na , que está presente na organização curricular dos cursos técnicos do IFFar em todas as formas e modalidades.
Título: Prática Profissional Integrada
Fonte: Ministério da Educação (2014).
A PPI é uma estratégia educacional que favorece a contextualização, a flexibilização e a integração curricular, considerando diferentes configurações da formação profissional e alinhando-se ao perfil do egresso. Essa abordagem tem como base principal o itinerário formativo, permitindo a articulação entre estudos e experiências profissionais. O contato com a prática real de trabalho se torna um espaço essencial para assegurar, de forma concreta, conteúdos, métodos e formas que promovam, ao longo do itinerário formativo, a politecnia, a formação integral e omnilateral, além de incentivar a interdisciplinaridade (Marques; Vieira; Pontel, 2020).
Nas diretrizes administrativas e curriculares para a organização didático-pedagógica da EPT de nível médio do IFFar, regulamentada pela Resolução Consup nº 028/2019, constam as orientações a respeito desta organização curricular tratada como metodologia (IFFar, 2019). Vejamos seu Art. 108°:
A PPI é uma metodologia de ensino que contextualiza a aplicabilidade dos conhecimentos aprendidos no decorrer do processo formativo, problematizando a realidade, fazendo com que os estudantes, por meio de estudos, pesquisas e práticas desenvolvam projetos e ações, baseados na criticidade e na criatividade.
Ou seja, integrando teoria e prática, como um incentivo à problematização da realidade e ao desenvolvimento de projetos baseados na criticidade e na criatividade dos estudantes, a PPI favorece uma aprendizagem mais significativa e conectada com os desafios reais. Para tanto, cada curso técnico deve destinar, no mínimo, 5% da carga horária dos componentes curriculares à realização da PPI, distribuída ao longo das etapas do curso. O planejamento do projeto de PPI deve ser realizado preferencialmente antes do início do semestre/ano letivo, na qual será desenvolvida e, no máximo, até 20 dias úteis a contar do primeiro dia letivo do semestre/ano na qual será desenvolvida, exigindo a inclusão obrigatória de momentos de planejamento coletivo e a definição dos componentes curriculares que farão parte do projeto, como afirmam Marques, Vieira e Pontel (2020). Ainda para esses autores, a PPI incorpora os conceitos de integração curricular, pesquisa como base pedagógica e interações estabelecidas por meio de ações e intervenções na comunidade. Assim, ela reflete o conceito de trabalho e destaca o compromisso dos Institutos Federais (IFs) com o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Para que esta metodologia se consolide na EPT de nível médio, é fundamental que os professores planejem e articulem suas práticas considerando a inseparabilidade entre teoria e prática, desenvolvendo ações que tenham a realidade como ponto de partida. Além disso, é essencial valorizar o trabalho coletivo, uma vez que a construção de uma sociedade emancipada é uma responsabilidade compartilhada, bem como oferecer condições efetivas, como tempo reservado na carga horária de trabalho e espaços físicos adequados para possibilitar essas interações (Minuzzi; Baccin; Coutinho, 2019). É importante, ainda, duas atitudes principais: a aceitação e o cultivo da disposição para o diálogo/interação e integração entre os professores.
Os professores precisam definir o tema gerador, alinhado ao perfil do egresso do curso, detalhando as atividades que serão realizadas e garantindo que estejam contempladas nos planos de ensino dos componentes curriculares envolvidos, os quais devem ser apresentados aos estudantes. Para isso, é fundamental que os professores se reúnam para avaliar e planejar as ações a serem desenvolvidas, assim como organizar a avaliação integrada dos estudantes, com o suporte da coordenação do curso.